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OPINIÕES
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ROSTAND MEDEIROS (Pesquisador do Cangaço) Amigo Geraldo, Terminei a leitura do seu livro, que recebi com extrema satisfação e muito agradecido pela sua extrema gentileza a este potiguar. Agradeço de todas as maneiras as citações feitas a este humilde curioso. Mas fico muito mais satisfeito em saber que te ajudei. Isso para mim não tem preço, pois você merece! Li o livro e, como eu faço nós bons livros de cangaço, o enchi de marcações, apontamentos, toques, etc. Além dele ficar, me desculpe o termo, todo arreganhado de tanto abrir e manusear. Para mim, quando um livro não é bom, ele fica nas minhas estantes completamente limpinho e ainda inteiro, por assim dizer. O pior é que ultimamente foram poucos livros sobre o tema que receberam minhas marcações! Acho que se você vir como eu trato seus livros, você nunca mais falaria comigo, de tantas marcações e manuseios que faço neles. Inclusive, naquele Cariri que lhe conheci, te disse isso pessoalmente. Mas vamos para o livro.... O grande problema de se trabalhar o cangaço, é não se trabalhar diretamente com a figura maior do movimento. Escrever sobre outros personagens do tema é sempre um risco. Parece que todos os cangaceiros que não foram Lampião, a vista daqueles que conhecem pouco o assunto, não merecem ter maior relevância. Mas isso é um erro! E você mostra isso muito bem neste livro sobre Dé Araújo. Este
cangaceiro deixa de ser uma notinha de rodapé e, com a sua interessante
história de vida, passa a ser um exemplo daqueles que sobreviveram após
sair do cangaço e as mudanças políticas e sociais do seu tempo. Algum besta pode dizer que, especificamente sobre Dé Araújo, você escreveu pouco em relação a vida deste cangaceiro. Mas ele deixou o sertão antes de 1930 e outros continuaram até 1940. Não dava para esticar a história desse jeito em um livro de cangaço. As informações e as fotos no final, pelo menos para mim, é um fechamento muito positivo da trajetória deste cangaceiro/militar. O encadeamento da vida de Dé Araújo, com a trajetória do cangaço entre os anos finais da década de 1910 e a sequência na década de 1920, está fantástico. Parabéns! Olhe Ferraz, o seu livro ficou muito bom, de verdade. Não estou lhe bajulando, pois não preciso fazer isso com ninguém, quanto mais com você. Nem estou lhe elogiando por ter tido uma pequena participação nesta obra. Estou lhe relatando isso por que gostei muito. Agora eu quero saber quando eu passo aí em Recife? É para lhe "raptar" e irmos visitar a Gruta de Dé Araújo, lá na Serra do Catolé, e outros locais maravilhosos daquele Pajeú . Pode contar comigo nesta empreitada. Outra coisa; pelo amor de Deus, não pare de pesquisar e escrever! O nível anda muito baixo e uma figura como você tem que produzir mais desta lavra... Um forte abraço e mais uma vez parabéns! Rostand JOSÉ RICARDO BRITO DE ARAÚJO (Palestrante no ramo da publicidade) 108º ENCONTRO MENSAL DOS SERRA-TALHADENSES. Recife, sexta-feira, 13 de setembro de 2013. Meu Caríssimo Geraldo Ferraz de Sá Torres A cada trabalho seu, de cunho histórico, você
nos presenteia com mais uma obras surpreendente, embasado em pesquisas
profundas que torna a leitura prazerosa além da riqueza dos detalhes,
da organização e da cronologia perfeita. Eu ouso dizer que o Livro é bastante marcante porque você escreve com muita verdade. Geraldo, você transmite uma imagem de Conteúdo, lembrando que a primeira impressão é a que fica e é composta da seguinte forma: 55% aparência postura e comportamento Eu afirmo que além de você ter um bom conteúdo, você também é portador de outras boas qualidades entre elas a competência do administrador que se tornou um excelente pesquisador das histórias do sertão. Você se debruçou por anos a fio a um estudo
voltado para os temas nordestinos, com isso hoje sua imagem tornou-se
coerente e duradora, que expressa algo que há dentro de você, sua
Empatia é Natural, nela vemos uma Pessoa Proativa, que se Comunica com
Clareza e Objetividade, demonstrando Energia, Foco, Amplitude de
Pensamentos, muita Determinação, Motivação e Amor pelo que faz. Acredito meu caríssimo Geraldo, que tudo deve ter começado pela admiração a seu avô paterno, Theophanes Ferraz Torres, a quem você chama com muito orgulho de bravo herói da Polícia Militar de Pernambuco, e não poderia ser diferente, embasado na trajetória do seu avô, que foi um grande militar, você trilhou nessa caminhada de Suce$$o como pesquisador, levantando tudo sobre outras personagens da história do cangaço e, de forma sensacional, você vem e enriquece a bibliografia sobre cangaceiros e volantes, de forma sensacional tornando-se um autor e palestrantes dos mais conceituados. Sabia que é sempre bom, ler coisas boas e é melhor ainda quando se conhece o Autor, e receber seu autografo. Um Grande Abraço do Amigo de Sempre. José Ricardo Brito de Araújo OLÍMPIO BONALD NETO (Acadêmico da Academia Pernambucana de Letras) Olinda, em 03 de junho de 2012 Sobre o tema titular, o escritor GERALDO FERRAZ de Sá Torres Filho ─ dedicado pesquisador pernambucano ─ traz à publicidade dois volumes de historia e memorialismo fundamentais a quem pretenda conhecer melhor aspectos singulares do banditismo nordestino. Descendente de militares notáveis, como o seu avô Cel. THEOPHANES FERRAZ TORRES, a quem dedicou a obra “PERNAMBUCO NO TEMPO DO CANGAÇO, UM BRAVO MILITAR (1894-1933)”,
premiado em 2008 pela Academia Pernambucana de Letras e dotado de
pertinaz curiosidade histórica e sociológica, o referido escritor
consegue resgatar da memória dos mais antigos, da Imprensa da época e
dos arquivos e escritos populares como Folhetos-de-Feiras, os fatos
dramáticos, o clima emocional, os ambientes e as paisagens físicas, os
personagens e as lutas sangrentas daqueles que fizeram a tradição
aguerrida do cangaceirismo e da repressão policial nos meados do século
XX. É mais um documentário precioso para a
compreensão dessa região brasileira tão rica de tradições e fatos
históricos que há tantos séculos vem exaltando a imaginação criadora de
sociólogos e historiadores à cata da plena configuração de um mundo de
“guerrilheiros das caatingas”, (heróis e foras-da-lei...) e de Agentes
do Estado que moldaram a personalidade de um povo que sempre soube se
insurgir contra a prepotência dos poderosos, das opressões oficiais e
dos excessos dos desafetos. Nenhum aspecto dos fatos e tradições daqueles míticos anos foram relevados, todos estão mencionados na obra exemplar de Ferraz. Um tempo de reformas, revoluções, ajustes econômicos e sócios culturais estão contidos nos dois volumes ora citados. No que concerne a esta sua mais recente obra
literária, Dé Araújo, Um Cangaceiro Afamado, Um Soldado Célebre,
Ferraz, com a Coleção Pernambuco no Tempo do Cangaço, inicia o resgate
de notáveis figuras sertanejas do histórico Ciclo do Cangaço. Ferraz coloca, agora, os poderosos holofotes da história na personagem Manoel Cavalcanti de Araújo, conhecido no universo do Cangaço como Dé Araújo. Mais um sertanejo que entrou no universo do Cangaço para se vingar de um desafeto. Este cidadão vivenciou o que tinha de bom e de ruim de dois mundos, o de fora-da-lei e o do lado da lei. Lembro, inclusive, o valor de estudos semelhantes, dos quais já me servi para compreender a importância e melhor avaliar algumas manifestações populares como os BACAMARTEIROS, tema que há dezenas de anos venho pesquisando no interior nordestino, a partir de Caruaru. O nosso ensaio, BACARMARTE, PÓLVORA E POVO, já em 3ª edição nacional, vem servindo para informar, valorizar e exaltar esse aguerrido esporte tão original, agora devidamente autorizado a continuar deflagrando seus tiros de pólvora seca em suas potentes armas, por Lei Federal graças à intervenção de Dr. Marco Maciel, então vice Presidente da República atendendo pedido da Comissão Pernambucana de Folclore. Esta manifestação vem conquistando centenas de associados por inúmeros Municípios ao ponto de já constituírem uma CONFEDERAÇÃO DE BACAMARTEIROS, com centenas de atiradores em replicas folclóricas dos históricos guerreiros das caatingas e estão com suas Sociedades reguladas pelos Poderes Públicos como se fossem pacíficos CANGACEIROS DE GARRAS CORTADAS. Os mesmos que, no dia 25 de fevereiro deste ano de 2012, festejaram em Serra Talhada o 1º ENCONTRO DOS BACARMATEIROS DO SERTÃO, evento criado por Comandantes sob a orientação de Nelson Tadeu Daniel, chefe dos Bacamarteiros de Flores, do Sertão do Pajeú. Para nós, ler novos trabalhos e falar sobre aspectos desse fenômeno ainda tão controvertido é uma oportunidade de voltarmos à saga dos Cangaceiros. Muitos os pesquisadores e sociólogos já trataram deste assunto como: Rui Facó - “Cangaceiros e Fanáticos”, Ed. Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 1963; Frederico Pernambucano de Mello - “Guerreiro do Sol. O banditismo do Nordeste do Brasil” - FUNDAJ. Ed. Massangana, 1985; Prof. Roberto Monteiro - “História da Policia Militar de Pernambuco”, M. Inojosa Editora, Recife, 1988; Frederico Bezerra Maciel - “Lampião, seu tempo e seu Reinado”, Ed. Vozes Ltda. 1988, Anildomá Willans de Souza, - “Lampião, o comandante das caatingas”, Gráfica Aquarela, Serra Talhada, 2001; e muitos outros escritores como Ariano Suassuna, Nertam Macedo, o próprio Geraldo Ferraz, Luiz Wilson, Claudio Aguiar, Marilourdes Ferraz, entre vários, inclusive os inumeráveis poetas eruditos e cordelistas. E sempre ainda existe o que conhecer e esclarecer. Para entendermos melhor o fenômeno sócio cultural do CANGAÇO, suas origens, seus coiteiros, sua ética e os confrontos com as Volantes, permitem-me recordar alguns fatos históricos e econômicos do universo nordestino nos fins do séc. XIX e início do séc. XX. Naqueles dias o Brasil vivia situações políticas com reflexos da Independência consentida pelos Governos Imperiais e iniciava a montagem de um país novo, ainda sob o impacto econômico e cultural da liberação do braço escravo e a industrialização no centro sul, importando trabalhadores especializados para a modernização da sua incipiente Economia. Todo o país sofria transformações, que concorreram para o surgimento dos bandos criminosos das caatingas e serranias do sertão nordestino, especialmente com o desequilíbrio na distribuição de bens entre o povo dos campos e os latifundiários - “os coronéis políticos de porteiras fechadas” que mantinham cangaceiros e bandidos como seguranças. Além do mais, com um Poder Publico fraco, centralizado, que não garantia o cumprimento das Leis, nem os direitos do cidadão, nem suas propriedades e sequer aplicava a Justiça; mais as enormes distâncias entre os grandes centros urbanos do litoral e do interior, sem rodovias ou estradas, com a precariedade dos meios de comunicação e a falta de autoridade dos funcionários públicos locais, completam a cena de gestação do cangaceirismo. E tudo isto ainda acrescido da cultura machista com supervalorizados comportamentos sociais em defesa da Família e da Propriedade, com valores medievais de soberania, honra e valentia, estimularam grupos que viviam pelas caatingas, armados e protegidos por uma parte da população de coiteiros e de compadres. E também de alguns POLÍTICOS e FAZENDEIROS, que viam neles o meio de defesa de seus interesses, seus conceitos tradicionais de honra e, todos, como o resto do povo, isolados na imensidão e distantes do Poder Central e, também, a mercê da violência de bandidos e de inimigos. Tais elementos sócios culturais moldaram os CANGACEIROS DE LAMPIÃO que foi, ─ ao lado de outros fora-da-lei não menos famosos como: JESUINO BRILHANTE, FLORO GOMES, SINHÔ PEREIRA, LUÍS PADRE, ANTONIO SILVINO, LUIZ PEDRO DO RETIRO, e CABELEIRA ─ o maior de todos e verdadeiro “Imperador do Sertão” no inicio do século XX. Virgulino Ferreira, o Lampião, nasceu no ano de 1897, no Sítio Passagem das Pedras, em Vila Bela, atual Serra Talhada, ao pé de Triunfo e distante mais de 430 km da Capital, de uma família católica de pequenos agricultores, e que veio a morrer, morto e degolado pela Polícia alagoana, junto com sua amada Maria Bonita e outros companheiros, no Grotão da Fazenda Angicos, Sergipe, em 28 de julho de 1938. Aos 12 anos, ainda frequentando o 3º ano primário, trocou a escola pela vida de vaqueiro, ganhando fama por sua disposição e habilidade no trato com o gado. Com 17 anos fez-se tropeiro, palmilhando as inóspitas trilhas do sertão e aprendendo a sobreviver na dura vida dos almocreves, viajando pelos principais centros comerciais do Pajéu. Envolvendo-se num delito foi preso e, sendo socorrido pelos irmãos que o libertaram, tiveram de matar o filho do delegado de policia, da tradicional família dos Nogueiras, até então amiga da sua, desencadeando a guerra particular entre os Ferreiras e os Nogueiras. Fugidos pelos sertões, seu pai terminou assassinado pela polícia alagoana e sua mãe faleceu logo após em sua fazenda, selando a sina trágica dos Ferreiras e criando o mito de LAMPIÃO, defensor e vingador de seus familiares. Surgia assim como um paladino medieval, verdadeiro cavaleiro andante da corte sertaneja, fundamentando mais tarde a classificação adotada pelo sociólogo e acadêmico Frederico Pernambucano ─ que primeiro evidenciou O ESCUDO ÉTICO dos “Guerreiros do Sol” ─ e uma tipologia desse fenômeno social compreendendo desde o cangaço de vingança, o cangaço- meio-de-vida e o cangaço-refúgio. Como associei os pacíficos Bacamarteiros com os Guerreiros do Sol? É que sempre fui curioso das coisas do nosso povo. Desde os anos 50 vinha observando, fotografando, ouvindo caçadores e pescadores além de muitos caboclos de lança, coiteiros, boiadeiros e gente dos candomblés, das sagradas procissões, dos profanos bonecos gigantes olindenses e de tudo, fazendo objeto de estudos, palestras e artigos. Para explicar, por exemplo, as origens dos BACAMARTEIROS de CARUARU, tentei entendê-los como: “... uma representação simbólica do CANGACEIRO, a figura sublimada do guerrilheiro das caatingas, com todo o seu conteúdo místico e aventureiro que se expande e se reafirma pacificamente aplicando os excessos aguerridos de forma artística na figura folclórica do atirador espetaculoso dos montes agrestinos...!” (Bacamarte Pólvora e Povo, 3ª Ed. Bagaço, Recife, 2004). Despertando, assim, para o mundo do cangaço quando recolhia matéria para meu livro sobre a tradição bacamarteira, oriunda da Guerra do Paraguai e a sua estética e a formação quase militar dos guerrilheiros sertanejos. Nos meados de 1970, estando a serviço da EMPETUR levantando o Patrimônio Turístico Natural e Cultural do Sertão, ouvi de um dos antigos moradores de Serra Talhada e Triunfo (PE), Princesa e Patos da Baixa Verde (PB) a esclarecedora informação de que: ... “o cangaceiro não era um bandido vulgar, salteador de estrada, mas sim aquele cabra de mais coragem, disposição e experiência que se tornava o defensor, “O GUERREIRO DA FAMILIA”, vingando as injustiças e defendendo a honra, a vida e os bens de seus parentes e amigos”. Em 1972, ao voltarmos a Triunfo, conhecemos a Irmã Maria José Alves Blandina, do Lar Santa Elizabeth, onde estávamos hospedados. Dela escutamos varias estórias e tradições regionais e, inclusive, um bom depoimento sobre Virgulino Ferreira que a religiosa conhecera, ainda jovem, nos tempos das lutas com os Nogueiras. Para ela, Lampião, era “Um homem reservado e respeitoso, dotado de hábitos religiosos como rezas diárias e de grande respeito à Igreja, que estava na vida do crime por motivos de vingança e em defesa dos seus parentes.” Madre Maria José chegou a fundar, em 11 de junho de 1975, no LAR SANTA ELIZABETH, uma Sala dedicada à MEMÓRIA DO CANGAÇO onde guardava jornais, retratos, documentos, inclusive o “batistério” (certidão de batismo) de Lampião, alem de objetos, peças de roupas, armas, chapéus e até uma máquina de costura usada por Maria Bonita. Um precioso acervo que, veio a inspirar a criação do atual MUSEU DO CANGAÇO de Triunfo, agora sob a orientação da historiadora Diana Rodrigues Lopes, autora do excelente livro “TRIUMPHO, A CORTE DO SERTÃO” editado pela Gráfica Folha do Interior, Santa Cruz da Baixa Verde, em 2003 e de onde retiramos informações. E, este depoimento mostra a outra face pouco divulgada (ou reconhecida) do Comandante das Caatingas. Verdadeiro herói popular daquela região. Também comprova a imagem de respeito que Lampião inspira a muitos sertanejos daqueles tempos é o episódio registrado por vários autores de que, por ocasião das temíveis excursões da COLUNA PRESTES pelo sertão nordestino, as autoridades pediram a Padre Cícero ─ o meu PADIM CÍÇO, tão venerado por Virgulino ─ que desse ao cangaceiro a patente de Capitão para que ele, como autoridade oficial, fosse lutar contra a COLUNA PRESTES que amedrontava com o fantasma do comunismo ateu a Ribeira do Pajeú, ameaçando invadir Triunfo. Lampião fez turismo no RECIFE... Outra notícia curiosíssima está no depoimento incluído no livro LAMPIÃO, SEU TEMPO E SEU REINADO de Frederico Bezerra Maciel, onde o deputado José Abílio de Albuquerque Ávila, de Bom Conselho, narra a viagem de Lampião ao Recife. Ele veio trazido pelo seu amigo sertanejo o coronel Zé Abílio, de Papacaça, na 2ª semana de Outubro de 1926 para consulta e tratamento com o Dr. Izaque Salazar, um dos maiores oftalmologistas de Pernambuco, para cauterizar seu olho doente. O temido cangaceiro chegou disfarçado de vaqueiro do coronel, barba crescida, óculos escuros, terno de brim e sapatos preto, tratou da vista, andou pelo Recife e encantou-se com o mar olindense... Deste fato tão singular e pouco comentado vale
destacar o saboroso episódio onde a minha Olinda aparece sendo visitada
pelo Capitão Lampião, que veio de bonde elétrico, pagando 200 reis até
a Praça do Carmo onde conheceu o Seminário, cumprimentou o Reitor, o
venerável Monsenhor Ambrosino Leite, e se encantou com a beleza das
ruas a descer serpenteado pelas ladeiras, as seculares igrejas e as
paisagens dos quintais e jardins verdejantes descortinadas do alto da
Sé com o mar infinito rebrilhando aos seus pés naquele verão de 1926.
Afinal para concluir quero registrar outro fato notável que faz melhor
compreender o mundo dos cangaceiros. A vida prega-nos peças. As “parcas” traçam as linhas dos destinos dos homens e eis que de repente cruzamos com personagem que nos chegam plenas de lembranças e telúricas recordações, alguma até dramáticas e emocionantes como esta de quem falaremos ao final. Aqui e agora, sem que sequer desconfiemos, está alguém muito mais versada nos meandros do universo cangaceiro do que qualquer um de nós. Uma pessoa que viveu e conviveu com gente do bando do CAPITÃO Lampião, um dos que conseguiu escapar do massacre de Angicos, que mudou de nome e de vida, trabalhou e afinal veio a criar família e educar os filhos longe das terras cruentas dos sertões. Este singularíssimo personagem foi-me apresentado no ano de 1974, em NOVA JERUSALÉM, Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, pelo meu amigo visionário e genial criador do MAIOR TEATRO AO AR LIVRE DO MUNDO, o pioneiro construtor PLÍNIO PACHECO. Naquela época a obra colossal da FAMILIA
PACHECO estava sendo objeto de interesse de artistas e serviu para
cenário de vários filmes. Em um deles, inclusive, havia uma cena
onde um bandido, com magistral pontaria estourava numa bilha de água na
cabeça de uma mulher que dobrava uma esquina do arruado onde se
desenrolava o drama filmado. O autor daquele cinematográfico tiro
foi-me apresentado por Plínio como um dos novos vigias da Cidade
Teatro. Era um senhor de meia idade alto, forte, de olhar
penetrante e fala mansa e que antes fora Delegado do Trânsito da cidade
de Brejo da Madre de Deus. O personagem de quem falo é GENERINO (que se
dizia SEM SOBRENOME), a quem entrevistei e tenho uma cópia do
depoimento que deve, ainda hoje, estar nos arquivos da EMPETUR. Dele recolhi preciosas informações sobre sua vida de rapaz pobre, sertanejo, que atravessou muitos anos de seca e viveu muitas coisas tristes na mocidade entre os anos 1920 e 30. Num Tempo que, como ele mesmo dizia: “... a Justiça não amparava os direitos dos trabalhadores que viviam seguindo os caprichos dos chefes políticos. E quando algum daqueles homens de coragem, de valor, tinha um rifle papo amarelo, de cruzeta, um revolver Anagram ou um Parabelum, se afirmava e, embora vivesse perseguido, terminavam obrigado a se reunir a um grupo dos “homens das caatingas”, não cangaceiros, para continuar vivos”. Fez uma longa narrativa de como eram, viviam e
se tratavam os companheiros de Virgulino, embora sempre negando tivesse
sido um deles. Matreiramente desconversava se eu perguntava sua atuação
no cangaço e ele me dizia: “Eu, não, que nunca tive coragem para entrar naquela vida...”.
Pois bem, o meu amigo de tantos anos GENERINO (o mais discreto dos
cangaceiros) deixou entre outros descendentes estudiosos, uma brilhante
escritora, gentil mestra de psicologia e de história que se chama ROSA
BEZERRA e hoje integra a operosa equipe da União Brasileira de
Escritores. LUIZ MAURÍCIO DE SÁ ARAÚJO (Analista do Banco Central, em Brasília-DF) Brasília-DF, julho de 2012 Escrever sobre o cangaço oferecendo fato novo é algo inédito como há muito não se via. Tudo ou quase tudo já foi dito. Aqui é o ator da história, o próprio cangaceiro, Dé Araújo, que, em idade avançada, cede aos insistentes apelos do sobrinho e afilhado José Firmo de Araújo e coloca, em manuscritos, a sua vida de bandoleiro, parte dela ao lado do mais famoso de todos, Lampião. Queria o sobrinho ver a história publicada, mas cedo partiu. Deixou os manuscritos e rascunhos do que viria a ser um livro. Algumas cartas intencionais. E o tempo tratou de proteger e conservar os esquecidos e abandonados papéis que viajaram, no tempo e no espaço, de São Paulo, última morada do cangaceiro, à sua terra natal, Pernambuco, até repousarem em Brasília. Passaram-se mais de sessenta anos desde que foram escritos até serem resgatados de um amontoado de papéis, cartas, fotos e documentos, deixados à própria sorte, guardados que tinham sido com o carinho de quem compreendia o valor histórico oculto. Velhos e gastos manuscritos de um bravo cangaceiro contando a sua história de vida nômade que nunca lhe saíra da mente. Mas, nem tudo, como se expressou, “é somente isso que me recordo, sei que tenho outras passagens.” Ficaram registrados aqueles momentos que se perpetuaram. Formou fileiras na força pública de Pernambuco. Ora um perseguidor, ora mais um cangaceiro que lutava por vingança, sedento por uma justiça nunca alcançada. Dado como morto, vislumbrando um possível fim, mudou de nome. Quando partiu rumo ao descanso dos justos, esse combatente das injustiças de uma época retira-se já como reformado da força pública de São Paulo, onde deixou serviços prestados. Uma vida rica de acontecimentos inéditos com os quais o leitor terá a oportunidade de se defrontar e degustar com plena satisfação. Pensava eu em atender aos desejos do meu pai. Dar conhecimento do fato à História. Transcrever manuscritos e rascunhos. Não resisti em revelar o que tinha em mãos ao irmão Magno. Para surpresa e satisfação o ocorrido superou o esperado. Pude cumprir a sua vontade da melhor forma. O material foi apresentado a Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho. Escritor, historiador, entusiasta e conhecedor profundo da matéria por excelência. Tem suas origens na terra onde nasceu e floresceu o cangaço. É neto de Theophanes Ferraz Torres, notório oficial da polícia pernambucana que prendeu Antonio Silvino e caçou Lampião. Carrega um currículo precioso, recheado de palestras sobre o tema. Detentor de prêmios e homenagens. Membro de diversas entidades literárias. Autor de dois livros publicados sobre o cangaço, um com dois volumes. A apresentação do material a Geraldo Ferraz não poderia ter sido mais profícua. Enxergou nele o ineditismo do valor histórico e se prontificou a narrar a vida de Dé Araújo, inserindo-a no contexto do tempo e do lugar onde tudo se passou, o que faz com a maestria que lhe é nata. A rica história do cangaço está fartamente intercalada do folclore regional. Fascina e encanta um povo que ainda hoje respira e sente no ar o cheiro e o andar dos cangaceiros pelas caatingas, ainda vivos na memória de todos. Ilustra verdades com invejável imaginação, criando histórias e contos empolgantes como se reais fossem. Povoa o espírito e alimenta a colossal literatura de cordel. Um gostoso ciclo vicioso repleto de fantasias que ainda cresce a passos largos e ligeiros rumo ao infinito. Ao lado desse rico folclore vive uma literatura preocupada com a verdade absoluta dos fatos. Séria, precisa, proveniente dos estudiosos que permanecem à cata de novos fatos. Farejando aqui e acolá. Escavando o solo seco da caatinga. Garimpando mais história para a grandeza desta cultura que é do povo. É por esse lado da autenticidade plena dos acontecimentos que vai o autor desta obra literária. Eu, sobrinho-neto de Dé Araújo, recebi a
honrosa incumbência desta apresentação. Assustado, preocupado e, por
deveras, lisonjeado e agradecido, titubeei, mas não refuguei a missão.
De posse dos documentos que motivaram o autor desta obra, arregacei as
mangas. Fui à luta. Selecionei, desprezei, separei, ordenei. Fiz e
refiz. Dei um tempo. Pensei em fatos, em histórias ouvidas. Juntei um
emaranhado de ideias confusas. Preguiçosamente dei início à áspera e
gratificante tarefa que aceitei, o que faria pela primeira vez.
Iniciei. Dei fim à empreitada. LAMARTINE DE ANDRADE LIMA (Ensaísta, membro das Academias de Letras e Artes e Cultura do Salvador (Bahia), de Gravatá (Pernambuco) e de São José do Rio Preto (São Paulo) e ex-secretário-geral do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia) Gravatá, em 16 de julho de 2012 O Nordeste do Brasil, com o seu povo, a cultura primeva, a civilização (ou civilizações, como aquelas paralelas do couro e a da cana-de-açúcar, mais a dos minerais, nas Lavras Diamantinas) e a sua evolução, tem sido observado, descrito e analisado desde o século XVI. Podem-se estudar os achados referentes aos acontecimentos, através de páginas de documentos oficiais portugueses, antigos cronistas coloniais, invasores militares estrangeiros, naturalistas viajantes, pesquisadores, historiadores, ensaístas, escritores sobre a vida real e de ficção, poetas do mundo culto e do povo. A terra nordestina foi conquistada pelas armas européias, numa investida na época correspondente à Renascença, todavia guardando, os ibéricos invasores, costumes medievais. A gente autóctone, indígena, foi quase aniquilada, principalmente naquele “desertão”, que originou a apócope “sertão” para denominar o interior distante. Malgrado isto, sobreviveram os seus descendentes miscigenados com o conquistador. A história nordestina tem sido marcada por muitas lutas. Entre aqueles que escreveram sobre fatos por ela envolvidos, o que mais se sobressaiu, de modo inegável, foi o fluminense filho de baianos, engenheiro Euclydes da Cunha, com o seu célebre livro Os Sertões, testemunho pessoal sobre o singular acontecimento do extermínio, por tropas republicanas armadas, da comunidade de Canudos, do interior da Bahia, tida como fanatizada pelo beato Antônio Conselheiro, e a obra foi por ele dividida em três partes, que tratam da terra, do homem e da luta. Aquele volume de ensaio, que levou o seu autor à Academia Brasileira de Letras, foi muito importante porque trouxe para a Região Nordeste uma visibilidade extraordinária, e deflagrou uma fase intensa de estudos, pesquisas e publicações, seguindo aquela divisão preconizada pelo escritor, em variadas nuanças, fase depois arrefecida, a qual recentemente, em 1997, foi reativada com a celebração do centenário do fim daquela verdadeira guerra civil. Antes desse fato histórico, já havia antigas preocupações com a luta armada, de conotação política, em que os senhores de terra utilizavam os seus moradores e trabalhadores da agricultura e do criatório como guerreiros, para garantir as suas lindes e disputar o poder local, e com a sua imediata consequência, que foi difundir nos hábitos do sertanejo o culto das armas e as decisões pela força. Outra decorrência, que determinou um ciclo histórico regional, foi o cangaceirismo, nome derivado de cangaço, apelido que os guerrilheiros assaltantes dos carrascais sertanejos davam aos apetrechos que conduziam sobre o corpo, junto com as armas, comparando-os com a canga que jugulava os bois de carro. Embora existam referências isoladas mais antigas, o ciclo do cangaceirismo, que envolveu centenas de bandidos chamados cangaceiros, durou meio século, teve seus limites principais entre os anos de 1892 e 1943, e seu clímax ocorreu nas décadas de 1920 e 1930. As forças policiais públicas, para enfrentar os cangaceiros, constituíram unidades móveis, denominadas forças volantes, para deslocar-se pelo sertão em perseguições de combate aos bandos e captura dos bandidos, havendo muitas mortes. Houve cangaceiros de nomes famosos, os mais célebres são os de Antonio Silvino e de Lampião. O primeiro deles, temido quadrilheiro assaltante de pequenas comunidades interioranas, quarentão e experimentado nos tiroteios, no ano de 1914 foi ferido em combate e preso pela tropa da Força Pública de Pernambuco, sob o comando do heróico jovem de 19 anos de idade, Alferes Theophanes Ferraz Torres. O último, em 1938, também na quarta década da vida, foi morto em combate com a tropa da Polícia Militar de Alagoas, comandada pelo Tenente João Bezerra. A sua cabeça, com a da sua companheira Maria Bonita e mais cinco cangaceiros, tive a oportunidade de estudá-las como perito médico legista, junto de meu mestre Professor Estácio de Lima, então catedrático – de quem fui assistente – da Faculdade de Medicina da Bahia e diretor do Instituto “Nina Rodrigues”, em Salvador. Mais tarde, no ano de 2001, tive ainda a
ocasião de exumá-las do Cemitério da Quinta dos Lázaros, na capital
baiana, a pedido da filha e das netas do famigerado chefe de bando,
para que recebessem sepultamento no túmulo da sua família em Aracaju,
Sergipe. Cuidando daquilo que os especialistas franceses chamam de “petite Histoire”, aquela história que é trazida pelas pessoas simples e comuns do campo, das ruas das cidades e das cozinhas das casas senhoriais para os eruditos dos gabinetes acadêmicos, sem descurar dos documentos de todos os matizes, o intelectual Geraldo Ferraz agora escreve outra obra notável. Inclina-se sobre mais um personagem do ciclo do cangaceirismo, de nome Dé Araújo, cuja importância demonstra em suas linhas e que estava escondido na obscuridade dum desvão da história do sertão pernambucano. O prefácio do olindense escritor, historiador, folclorista, poeta e pintor Olímpio Bonald Neto, entre outras coisas, compõe um interessantíssimo estudo sobre a influência da cultura daquele referido ciclo sobre a manifestação dos bacamarteiros, tão bem analisada por ele em livro memorável. O posfácio de Manoel Severo Gurgel Barbosa, pesquisador da História das lutas nordestinas, membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço e do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, idealizador e curador do Cariri Cangaço, reunião anual de estudiosos e aficionados do tema, traz a conceituação do cangaceirismo e a citação dos mais célebres chefes de bandidos rurais do sertão, e relembra a personalidade do Oficial Theophanes Ferraz Torres, brioso comandante de volantes da Força Pública do Estado de Pernambuco, famoso pelas suas vitórias pela ordem pública naquele interior do território nacional. Manoel Severo lembra a percuciência de Geraldo Ferraz na busca dos elementos históricos, inclusive imagéticos, no levantamento biográfico de Manoel Cavalcanti de Araújo, aliás, Rodrigo de Souza Nogueira ou Dé Araújo e sua passagem das armas do cangaceiro para as armas da legalidade, através de uma saga digna das mais intensas histórias de aventuras. Agradeço a honrosa oportunidade de escrever
sobre a obra e seu autor. Que o mundo cultural pernambucano e
brasileiro receba minhas congratulações por mais esta realização de
Geraldo Ferraz que, tratando de um tema e de uma personalidade
tipicamente nordestinos e nacionais, enriquece as letras históricas do
estado e do nosso País. MELCHIADES MONTENEGRO FILHO (II) (Presidente da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro-ALANE e 2º Vice-Presidente da União Brasileira de Escritores-UBE) Recife, julho de 2012 DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUEZA por ANTONIO DE MORAES SILVA - 1877 - CANGAÇÁES,
S. M. PT. T. DO BRASIL. A MOBÍLIA DE UM POBRE, OU ESCRAVO; TALVEZ ABUSO
DE BAGAÇÃES OU DERIV. DE BANGAÇO, COUSAS TÃO VIS, E SEM VALOR COMO O
BANGAÇO. DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA – 2009 - CANGAÇO, S. M. (1789) 1 BAGAÇO DA UVA DEPOIS DE PISADA; ENGAÇO 2 B CONJUNTO DE TRASTES, UTENSÍLIOS E MÓVEIS DE GENTE HUMILDE OU ESCRAVA 3 CONJUNTO DE ARMAS CONDUZIDAS POR MALFEITORES 4 P EST. M Q CANGACEIRISMO 5 PEDÚNCULO E ESPATA DAS PALMEIRAS QUE QUANDO SECOS SE DESPRENDEM E CAEM; CANGARAÇO, QUIBACA, TIBACA. ETIM. CANGA+AÇO. Compreende-se então que, CANGAÇO é aquilo que não tem valor, não presta, sendo no sertão nordestino também usado para definir carniça ou algo podre. A primeira quadrilha de cangaceiros de que se tem conhecimento foi a de Jesuíno Alves de Melo Calado, "Jesuíno Brilhante", que agiu por volta de 1870, embora alguns historiadores atribuam a Lucas Evangelista o feito de ser o primeiro a agregar um grupo característico de cangaço, nos arredores de Feira de Santana na Bahia (em 1828), sendo ele preso junto com a sua quadrilha em 28 de Janeiro de 1848 por provocar, durante vinte anos, assaltos contra a população daquela cidade. A última quadrilha de um cangaceiro famoso, porém, foi a de "Corisco" (Cristino Gomes da Silva Cleto), que foi morto em 25 de maio de 1940. O vernáculo CANGACEIRO popularizou-se no século XX pelo aumento da população e do número de fazendas de gado no semiárido tendo como consequência o enriquecimento da região. Estes fatores propiciaram a formação de quadrilhas de ladrões e assassinos que passaram a saquear as fazendas, vilas e povoados da área sertaneja. O descaso das autoridades e a dificuldade de comunicação favoreceu bastante a proliferação dessa atividade. Algo de muito peculiar tem que se destacar
neste universo: é a compactuação entre os famigerados cangaceiros com
os igualmente famigerados latifundiários ou grandes comerciantes que,
por interesse mesquinho, davam abrigo e sustentavam os diversos bandos,
desde que estes não interviessem nos seus negócios. Os COITEIROS e os
CANGACEIROS, farinha do mesmo saco, se assemelham com o que assistimos,
hoje, no século XXI entre os produtores de maconha e algumas
autoridades que nada fazem para coibir a prática ou dos políticos com
seus bandos de cabos eleitorais, explorando pela demagogia o povo, para
receberem as benesses dos cargos eletivos conquistados. O pesquisador GERALDO FERRAZ (Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho), é um dos poucos que se preocupa em detalhar minuciosamente suas fontes de pesquisa e, principalmente, estudar os dois lados da moeda: o CANGAÇO e as VOLANTES, esta última totalmente esquecida e, às vezes, vilipendiada em contrapartida pela exaltação ao banditismo. Os descendentes dos cangaceiros são tratados como personalidades de destaque, sem nada de relevo terem por merecimento, enquanto que os filhos e netos dos soldados das VOLANTES, mortos em combate, geralmente em covardes emboscadas, prática usual dos cangaceiros, são de todo esquecidos e nunca exaltados. Encontrar algo novo nesse universo tão explorado é praticamente impossível, mas aconteceu. Trata-se de um trabalho de intensa pesquisa, em especial, da resumida biografia, de um cidadão sertanejo, Manoel Cavalcanti de Araújo, que, achando-se injustiçado, resolveu pegar em armas para executar sua vingança. Na sua espetacular trajetória de vida, tornou-se cangaceiro da quadrilha de Sinhô Pereira ─ onde recebeu a alcunha de Dé Araújo ─ alistou-se na Força Pública de Pernambuco, virou desertor, reassumiu as fileiras do cangaço, participando, mais uma vez, da quadrilha de Sinhô Pereira e logo depois de outro famigerado cangaceiro, até o momento em que não mais compactuou com os bandoleiros. Convencido por familiares e amigos a tentar a sorte no Sudeste brasileiro, trocou de nome e com nova identidade, passou a assinar-se Rodrigo de Souza Nogueira. Se incorporou e serviu até ser reformado no Regimento de Cavalaria da Força Pública de São Paulo, onde se destacou no papel de um militar exemplar. Por uma circunstância fortuita, o pesquisador GERALDO FERRAZ, tomou conhecimento da trajetória desse personagem, não de todo seu desconhecido, pois era parente em quarto grau do seu avô Theophanes Ferraz Torres, fecundo militar e batalhador feroz contra as hostes cangaceiras. Geraldo se pôs a pesquisar, e cada vez que se aprofundou naquele veio histórico totalmente inexplorado, seu entusiasmo cresceu. E o resultado é esse maravilhoso exemplo de uma pesquisa séria sobre um tema, às vezes, gravado tão levianamente. Parabéns, Geraldo, seu trabalho é admirável! ÂNGELO OSMIRO BARRETO (Historiador, escritor, pesquisador e Presidente do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará – GECC). Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, março de 2013 Autor de dois excelentes trabalhos de cunho histórico, intitulados: Pernambuco no Tempo do Cangaço, dividido em dois volumes e Theophanes Ferraz Torres - Um Herói Militar na Cavalaria de Pernambuco, obras de grande aceitação entre os pesquisadores e o público em geral, Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho nos brinda agora com mais um livro, abordando a história do sertão nordestino, que por conta disso não poderia deixar de inserir o cangaço nas suas páginas. Geraldo Ferraz conhecido entre os pesquisadores como o “Comandante das Volantes”, não por acaso, mas pelo fato de abordar, em suas pesquisas e palestras, com maestria, as peripécias das volantes, enfocando em especial a trajetória de seu avô, o grande militar Theophanes Ferraz Torres, famoso oficial pernambucano que prendeu o não menos famoso cangaceiro Antonio Silvino, alcunhado de o “Governador do sertão”, o maior dos cangaceiros até então, que só teria esse título ofuscado com o surgimento de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, esse por sinal, também tenazmente perseguido pelo brioso oficial nascido em Floresta. Com intuito de nos trazer outros personagens envolvidos na saga sertaneja, tendo como objetivo abordar outros focos, novas perspectivas, Geraldo Ferraz nos vem falar agora de Manoel Cavalcante de Araújo, um sertanejo nordestino que se achando injustiçado, resolveu aderir ao cangaço, onde recebeu o nome de Dé Araújo. Primeiramente integrou o bando de Sinhô Pereira, grande cangaceiro das ribeiras do Pajeú, precursor do famoso e famigerado Lampião. Manoel Araújo abandonou o bando de Sinhô e se integrou a Força Pública de Pernambuco, mais tarde desertaria e voltaria a integrar mais uma vez o bando de Sinhô Pereira, depois ainda se incorporaria ao grupo de Lampião. Tempos depois, novamente deixaria o cangaço, indo dessa vez para o Sudeste do País, se incorporando mais uma vez na Força Pública, agora na do estado de São Paulo, onde se aposentaria. Pesquisador sério da história nordestina, o
autor trilha por abordar outros personagens envolvidos no movimento que
abalou por décadas o sertão do Nordeste, mostrando a importância de
personagens satélites dessa história, levando o leitor a perceber que
muitos indivíduos fizeram parte dessa saga, que a história do cangaço
não se resume na figura de Lampião e mais alguns poucos famosos. O
cangaço envolveu toda uma sociedade, onde o coronel, o beato, o
cangaceiro e o sertanejo em geral são partes importantes nesse
contexto, não se conta a história de um, sem obrigatoriamente se contar
a do outro, homens filhos de um mesmo solo, sofrido, rude, mas ao mesmo
tempo acolhedor e amado. Com este livro, Geraldo Ferraz vem enriquecer a bibliografia voltada para o tema nordestino, mais um trabalho de fôlego, obra de refinado valor, que com certeza agradará a “cangaceiros” e “volantes”. MANOEL SEVERO GURGEL BARBOSA (Pesquisador, Sócio da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço. Diretor do GECC – Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará. Idealizador e Curador do Cariri Cangaço). Fortaleza, 19 de março de 2013 O ano era 2008, na época, participando do Fórum do Cangaço em Mossoró, promovido pela SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, fui apresentado ao pesquisador e escritor Geraldo Ferraz pela primeira vez; haveria ainda de ter o privilégio de acompanhar uma de suas conferências, no mesmo fórum com o Tema: O Combate ao Cangaceirismo, onde um dos personagens principais era Teophanes Torres. A riqueza de detalhes, o zelo, o cuidado com a verdade histórica e a perfeita harmonia lógica e cronológica durante a apresentação de Ferraz me chamaram a atenção, a partir dali comecei a conhecer mais de perto a admirar o trabalho desse espetacular nordestino, o competente administrador de empresas que dedicou e dedica boa parte de sua vida à pesquisa deste fenômeno marcante que é parte fundamental da história do sertão: O cangaço. O cangaço é resultado de um conjunto de circunstancias que remontam à época de nossa colonização; com atuação geográfica mais intensa em sete dos nove estados do nordeste acabou revelando ao mundo homens e mulheres, diferenciados, moldados ao sol e ao carrasco da caatinga, acostumados à dor e ao bacamarte. Cabeleira, Lucas da Feira, Jesuino Brilhante, Silvino e Sinhô Pereira; Virgulino, Jararaca, Sabino, Massilon e Corisco; se formos elencar os muitos personagens dessa saga sertaneja de luta e dor, certamente precisaríamos de muito mais tempo, e papel, o que a imensa bibliografia sobre o tema, comprova. Hoje novamente, o incansável Geraldo Ferraz nos surpreende com a apresentação de um destes bravos sertanejos, de história semelhante a tantos outros que fizeram parte do ciclo doloroso do cangaço, Manoel Cavalcanti de Araujo, que se achando injustiçado “pega em armas” para executar sua própria vingança, a vingança tão própria dos tempos de então e do lugar, vingança essa que viria a escrever com letras de sangue a trajetória de Dé Araújo, um cangaceiro afamado, um soldado célebre. Pouco ou nada explorada, a história de Dé Araujo se torna de importância sem igual dentro das muitas que marcaram esses personagens do sertão nordestino do final do século XIX e inicio do século XX. De cangaceiro a volante, de volante a desertor, de desertor a cangaceiro e de cangaceiro a destacado militar da força pública. De Pernambuco a São Paulo, Dé Araujo nos mostra a crueza de um tempo em que o sertão alegre e belo era penosamente maltratado pela ausência das ações do Estado, onde a política dos coronéis, consolidada pela República Velha, imprimia ao homem das caatingas uma rígida e desleal obediência ao mandatário local, senhor de todas as terras e de todas as vontades. A ausência da lei e da ordem fez prosperar como uma verdadeira epidemia, o banditismo no sertão, e é aqui que a história de personagens como Virgulino Lampião, Sinhô Pereira e Corisco, se encontram com a história de Dé Araujo, pouco conhecida da maioria de todos nós. Dessa forma a presente obra: Dé Araujo. Um cangaceiro afamado, um soldado célebre, cumpre o papel ao qual seu autor, Geraldo Ferraz se propôs, que é debruçarmo-nos de forma séria sobre a história de vida de mais um desses homens; sertanejo forte como Euclides da Cunha afirmava; suas esperanças e angustias, seus sonhos e seus pesadelos, seu caminho, seu destino e seu legado. SAUDAÇÃO AO NOVO ACADÊMICO GERALDO FERRAZ DE SÁ TORRES FILHO Excelentíssima senhora Ana Maria de Lyra e César, presidente da Academia de Letras e Artes do Nordeste – ALANE, em nome de quem saúdo os demais componentes da mesa. Confrades presentes, demais autoridades, minhas senhoras e meus senhores. Recebi do dileto amigo Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho o convite para saudá-lo nessa solenidade do seu ingresso na ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DO NORDESTE – ALANE e asseguro aos presentes que não foi tarefa fácil, tal a quantidade de títulos e atividades que o neoconfrade possui. O que mais se destaca na sua obra literária é a precisão da pesquisa, no que exemplifico: o seu livro “PERNAMBUCO NO TEMPO DO CANGAÇO – Theofanes Ferraz Torres, um bravo militar”, foi vencedor do importante Prêmio Literário Amaro Quintas, que versa sobre a História de Pernambuco, patrocinado pela Acadêmica Fátima Quintas, no concurso Literário de 2008, da Academia Pernambucana de Letras e constitui um primor de pesquisa bibliográfica, jornalística, documental e de entrevistas pessoais. Sobre essa obra tecerei comentários no decorrer desse panegírico. Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho herdou o nome do seu pai, sendo essa a razão de não possuir o sobrenome Holanda, de sua mãe Maria José de Holanda Torres – Dona Zequinha. Para não estender demais esse assunto, não tratarei dos dados das famílias Sá e Torres, fixando-me unicamente nas famílias Ferraz e Holanda. Na sua ascendência coexistem as duas correntes formadoras do HOMEM PERNAMBUCANO, o tronco sertanejo da família Ferraz, que desde a expansão das fazendas de gado pelo vale do Rio São Francisco e seus afluentes nos séculos XVII e XVIII, fixaram-se naquela região. A origem da família Ferraz é tão antiga quanto Portugal, os primeiros registros são do tempo do rei D. Diniz nos primórdios da história portuguesa. Hoje a palavra FERRAZ tornou-se quase sinônimo de sertanidade. Já pela parte de Dona Zequinha – Maria José de Holanda Torres a herança é açucareira. A família Holanda iniciou-se em Pernambuco com Arnau Florentz ou Arnau de Holanda, nobre que acompanhou Duarte Coelho na fundação da Nova Lusitânia. Arnau era filho de Margaretha Florentz e Hendrick Van Holand, Barão de Rhijnsburg. Ressaltando que por parte de mãe era sobrinho do Papa Adriano VI – último Papa holandês. Ao chegar a Pernambuco casou-se com dona Brites Mendes de Vasconcelos, protegida da rainha Dona Catarina de Portugal, originando assim a família Holanda. O casal recebeu várias sesmarias fundando nelas inúmeros engenhos tornando-se a família Holanda, ao longo da história, ligada a agroindústria açucareira na Zona da Mata de Pernambuco. E o nosso amigo Geraldo embora nascido na cidade do Recife e tendo vivido em várias cidades pernambucanas, fixou-se, desde tenra idade, na cidade de Gravatá, Agreste Pernambucano, área intermediária entre o Sertão dos Ferraz e a Zona da Mata dos Holanda. Iniciou seus estudos em Gravatá, mas concluiu o segundo grau no Recife onde se formou em Administração de Empresas fazendo posteriormente pós-graduação em Administração Pública. É servidor público municipal fazendo parte da Comissão Central de Inquérito, na qualidade de membro permanente, da Secretaria de Assuntos Jurídicos da Prefeitura da Cidade do Recife. Faz parte do Centro de Estudos de História Municipal –CEHM, Sócio fundador dos : “Amigos do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano” e do Núcleo Pernambucano de História da União Brasileira de Escritores – Secção Pernambuco – UBE-PE. Membro das seguintes associações: Instituto Cultural Gravataense – Gravatá - PE; Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC – Mossoró RN; União Brasileira de Escritores – Secção Pernambuco – UBE-PE; União Nacional de Estudos Históricos e Sociais – UNEHS, São Paulo, SP. Correspondente da Academia Serra-Talhadense de Letras – Serra Talhada – PE e Acadêmico da Academia de Letras e Artes de Gravatá – ALAG – Gravatá – PE. Além de pesquisador e literato tem como “hobby” a pintura quando participou de inúmeras coletivas a partir do ano de 1991 e protagonizou duas exposições individuais no Centro Ítalo-Brasileiro Dante Alighieri – 1992 no Recife e na Agência Shopping Center Recife da Caixa Econômica Federal em 1995. Particularmente tenho o privilégio de conhecer suas preferências plásticas pelos inúmeros e-mails que trocamos. Geraldo tornou-se um especialista nos temas Cangaço, Volantes e Pesquisa Histórica, sendo ora palestrante, ora debatedor em inúmeros encontros literários no Recife, nas cidades do interior e por todo o Nordeste. Mas é no papel de Coordenador do Programa “Quarta às Quatro” da União Brasileira de Escritores – Secção Pernambuco – UBE-PE que nosso novo acadêmico se destaca como excelente comunicador. Levado pelo seu carisma incentivador, inúmeras pessoas desabrocharam para a literatura, na forma de poesias, crônicas, novelas ou qualquer outra expressão voltada às letras, sempre independente da faixa etária: jovens iniciantes ou idosos que descobriram na arte literária uma forma de viver ou reviver. Tudo orquestrado por Geraldo. Não serei leviano nem bajulador se comparo as obras literárias “PERNAMBUCO NO TEMPO DO CANGAÇO – Theophanes Ferraz Torres um Bravo Militar – 1894/1933” e “THEOPHANES FERRAZ TORRES um Herói Militar na Cavalaria de Pernambuco” de Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho com a obra “ANAIS PERNAMBUCANOS” de Francisco Augusto Pereira da Costa. Ambas são fruto de exaustivas pesquisas documentais a esmiuçar detalhes da história que ficariam perdidos do público em arquivos empoeirados sobre prateleiras esquecidas a mercê das intempéries do nosso clima tropical e do descaso generalizado pelos fatos do nosso passado. No caso das obras citadas, a segunda sobre a Cavalaria, escreveu no prefácio Frederico Pernambucano de Mello: “Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho estreou nas letras científicas de Pernambuco por onde bons autores têm culminado a obra de toda uma vida: com produção séria, sólida e atraente. Um modelo de compêndio historiográfico, numa palavra.” Embora trate da vida e trajetória profissional do seu avô Theophanes Ferraz Torres os três volumes, os dois primeiros sobre o tempo do cangaço e o terceiro sobre a Cavalaria, põem a descoberto minúcias da vida de Pernambuco seja do Recife ou do interior do Estado. Exemplificarei: Volume I pag. 80 – “A cidade do Recife estava em festa naquele domingo 14 de abril de 1912. Os recifenses iam conhecer o aeroplano. O aparelho que se exibiria no Hipódromo (Campo Grande) era o mais moderno : um “Bleriot” de 50 HP e 7 cilindros e na madrugada do dia 15 de abril a Estação Radiotelegráfica de Olinda recebia a noticia do naufrágio do navio “Titanic”. Volume I pag. 90 - em 10 de junho de 1913, o jornalista do Jornal Pequeno, Assis Chateaubriand fez um voo no “Bleriot” com o Sr, Lucien e teve que aterrar em plena cidade. Volume I, pag. 99 “A Maxambomba era uma denominação popular da marca de fábrica, inscrita nas suas locomotivas – “MACHINE PUMP”. Volume I pag. 221 – Em 21 de setembro de 1919 os recifenses comemoraram, através de imponentes festas realizadas na praça da Faculdade de Direito, a coroação Canônica da imagem de Nossa Senhora do Carmo, como Padroeira do Recife. Volume I pag. 239 - O Brasil participa pela primeira vez dos Jogos Olímpicos (na cidade de Antuérpia - Bélgica) e conquista a medalha de ouro em tiro com revolver. Volume I pag.336 – Ano de 1924 “A água era o mais importante instrumento de sobrevivência na luta contra os cangaceiros. Tanto as volantes quanto os cangaceiros viviam o mesmo problema. Tamanha era a raridade do precioso líquido. Para mitigar a sede todos cavavam no leito secos dos riachos, espremendo-se a raiz do umbuzeiro, a raspa do facheiro, do caroá, do olho da macambira e do xique-xique. Para enganar a sede, roia-se pedaços de rapadura. Volume I pag. 367 – Aos 2 de julho de 1924, um pavoroso incêndio destruía o tradicional estabelecimento balneário, Casa de Banhos, que ficava localizada sobre os arrecifes. Volume II pag. 395 – Pela primeira vez o Brasil ia tomar parte no concurso de beleza. A primeira Miss Pernambuco, foi a Senhorita Connie Braz da Cunha eleita em 20 de março de 1929. O “Jornal do Commercio” do Recife ficou encarregado das eleições das misses Pernambuco, Paraíba e Alagoas. A eleição foi feita por meio de cupões que saiam publicados no jornal. Volume II pag.305 – para mim esse tópico foi uma agradabilíssima surpresa. Na fotografia que ilustra a visita ao Sertão, especificamente a cidade de São José do Belmonte, do Dr. Eurico de Souza Leão, sentado ao lado do ilustre visitante e bem próximo ao Tenente Theophanes Ferraz Torres, está meu pai, Melchiades de Albuquerque Montenegro, juiz municipal daquela cidade. E assim, dileto amigo e confrade Geraldo, tracei um ligeiro perfil de sua pessoa, da sua família e da sua obra. Seja bem vindo a nossa Academia de Letras e Artes do Nordeste que a partir de hoje está muito mais rica com sua presença entre seus pares. Recife 04 de outubro de 2010 CARLOS SEVERIANO CAVALCANTI (poeta, escritor, faz parte de diversas instituições literárias e é membro titular das seguntes academias: Recifense de Letras; de Letras e Artes do Nordeste; e Artes, Letras e Ciências de Olinda (atual presidente) Fortaleza, 19 de março de 2013 Cabe-me, neste instante, a subida honra de fazer uma oportuna e meritória homenagem ao acadêmico, historiador, memorialista e promotor cultural, Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho, o líder maior das inimitáveis “Quartas as quatro", neste aconchegante jardim da “casa rosada", nossa querida UBE. Numa síntese do histórico/humano/profissional, informo que o homenageado nasceu no Recife no dia 30 de dezembro de 1955. Fez os cursos primário e ginasial, em escolas de Gravatá e do Recife. Formou-se em Administração de Empresas pela Faculdade de Ciências Humanas ESUDA em 1978 e pós-graduação em Administração Pública na FIESP de 1979 a 1980. É funcionário público municipal exercendo atualmente o cargo de Administrador e faz parte da Comissão Central da Secretaria de Assuntos Jurídicos da Prefeitura da Cidade do Recife. Artista plástico participante de várias exposições individuais e coletivas. Casado com a elegante e simpática, Rosane de Oliveira Ferraz, de cujo enlace gerou-se Ana Paula e Monique, duas belas bacharelas desta cidade do Recife, que por certo, abrilhantarão a ciência do Direito em nosso universo jurisdicional. O homenageado conta ainda, com o apoio presencial e literário da sua genitora, assídua frequentadora da UBE, D. Maria José de Holanda Torres. Faz parte da FIAM, hoje FIDEM no Centro de História Municipal, CEHM; sócio fundador da instituição Amigos do Arquivo Público Jordão Emerenciano e do Núcleo Pernambucano de História, além de membro da União Brasileira de Escritores, UBE - PE. Associado acadêmico da Academia Gravataense de Letras e da Academia de Letras de Artes do Nordeste - ALANE e associado correspondente da Academia Serra-talhadense de Letras, além de associado fundador do Instituto Cultural Gravataense, onde participou do movimento "República da Arte". Escreveu a obra PERNAMBUCO NO TEMPO DO CANGAÇO Theophanes de Sá Ferraz Torres - Um bravo Militar (1894 - 1933, (seu avô), volumes I e II e escreveu, também, sobre a CAVALARIA DE PERNAMBUCO, centrado no cenário da Primeira República. Palestrante de escol, notadamente sobre a fase histórica do cangaceirismo do Nordeste, tanto no Recife, como em Porto de Galinhas, Garanhuns, Mossoró, no Estado do Ceará e noutras localidades. Morou durante a infância em Triunfo, Vitória de Santo Antão e Gravatá e nesta última tendo passado parte da infância e adolescência, Geraldo teve e tem a sua alma impregnada de um coletivo amor/apego pelo interior de Pernambuco e pelo Nordeste, como um todo. Pesquisador arguto do cangaço, o escritor esmiuçou a paisagem sertaneja nos mínimos detalhes. Assim como Euclydes da Cunha, estudou a caatinga nordestina no que tange aos costumes, ao clima, ao relevo e à antropologia, nas pessoas do bandoleiro, do coiteiro, do policial (chamado macaco, pelos os bandidos) e de uma comunidade sobressaltada diuturnamente. Os seus livros nos fazem singrar esse mar revolto desde os meados do século XIX e a primeira metade do conturbado século XX, ante a crueldade de Antonio Silvino, Virgulino Ferreira (Lampião) e muitos outros criminosos imbuídos em matar, assaltar e roubar nos lugarejos e pequenas cidades, aquelas que tinham apenas uma torre de igreja. Mas não estou aqui para falar sobre o cangaço, tema este, que não faz parte da minha vivência literária. Estou aqui para falar sobre o confrade e amigo Geraldo Ferraz. É uma tarefa fácil? Até certo ponto, digo que sim e aproveito esse lado mais conhecido desse historiador para fazer algum comentário a seu respeito: falo desse animador cultural que transformou as tardes ubeanas das quartas-feiras em verdadeiro ambiente de cultura e entretenimento. Com esse porte de "galalau" como diz alguém, com esse indefectível bigode bem cuidado, esse sorriso gratuito e espontâneo, Geraldo distribui simpatia a "torto e a direito". "Quartas as Quatro," sob sua direção atingiu um estádio de grandeza imensurável. Não temos no Recife e, pelo que eu saiba, no Nordeste, nada semelhante a esse evento semanal de rara beleza e espontaneidade. A sua liderança provoca equilíbrio, gera grandeza e fomenta união. A literatura pernambucana tem nesse acadêmico um trampolim entre o neófito e o consagrado onde uma simbiose cultural/poética assume o singular gesto de tornar a "Casa do Escritor Pernambucano" na maior convergência de poetização ao ar livre, talvez do Brasil, onde o incentivo para as letras começa aos oito e não termina nos oitenta e oito. Aqui, à semelhança da "Sociedade dos Poetas Vivos de Olinda", as pessoas do povo, como são chamadas aquelas mais simples, as que melhor abrigam a sinceridade no coração, têm o seu "lugar ao sol". Não interessa se o poema tem o pé quebrado, o braço torto ou a perna engessada, o que interessa é estimular a iniciação ao mundo das letras. A perfeição chegará com o tempo. Depende, evidentemente, de cada poeta e de cada escritor de prosa ou verso. O segredo está na orquestração da leitura e na vontade de aprender, individual. Geraldo Ferraz é o comandante desses eventos. Nunca se utilizou da empáfia para demonstrar grandeza. Coordena com equilíbrio, paciência e bom humor. Não guarda nele a figura macabra do fingimento. A UBE deve muito ao seu trabalho de coordenação pessoal. O presidente Alexandre Santos, que tanto tem engrandecido esta instituição, que tem enfrentado o nepotismo de alguns gananciosos e usurpadores que de quando em vez procuram depredar os bens da UBE, reconhece e aplaude o valor profissional e humano de Geraldo Ferraz. Os associados e frequentadores desta casa, também exaltam a prestabilidade desse nosso incansável companheiro. Quanto a estas palavras espontâneas e sinceras que ora pronuncio sobre o colega e amigo Geraldo Ferraz resta-me dizer que lamentavelmente são empobrecidas de maiores informações sobre o escritor ora saudado, uma vez que não disponho de abrangentes informes sobre sua vida e sua obra literária e profissional, apenas digo aqui o melhor que pude aquilatar de informações dadas por Jair e nessa salutar convivência semanal das bucólicas tardes do programa "quartas as quatro". Na ausência de maiores enfoques, resta-me pedir auxílio à herança afortunada de Baudelaire, Camões, Bilac ou Waldemar Lopes e tentar rabiscar um singelo soneto como fechamento desta justíssima homenagem que arranco das fímbrias do coração e faço a este dileto e fraternal amigo. QUARTAS AS QUATRO Fulge, "Quartas
as Quatro”, um belo evento O jardim desta casa se
engalana Mas se alguém faz
um verso
mais simplório, Neste jardim tão
farto de
esperança Recife, 8 de outubro de 2010. Carlos Severiano Cavalcanti. HERCULANO
DE SOUZA NOGUEIRA NOGUEIRA – Militar da PMPE (Natural de
Nazaré do Pico-PE, antiga Algodões), aos 93
(noventa e três) anos e dotado de uma memória
extraordinária. Herculano é irmão dos
bravos nazarenos: Hercílio de Souza Nogueira (morto no
combate da Maranduba – Sergipe, em janeiro de 1932, Adalgiso
de Souza Ferraz (também morto na Maranduba – SE) e
Aureliano de Souza Nogueira (Lero) – cunhado de Theophanes
Ferraz Torres. Recife, 04 de dezembro de 2006. Meu Caro Geraldo Ferraz: O Coronel Theophanes, além do parentesco, tinha um carinho todo especial para com os habitantes da Nazaré do Pico, localidade que teve origem com o professor Domingos Soriano Lopes Ferraz. Devido a ação enérgica daquele militar/amigo, Lampião, a partir de 1926, não pode realizar seu desejo de queimar a cidade e matar todos sem poupar nem mesmo as crianças. O povo era agradecido pelo fato de Theophanes ter armado a cidade para a sua defesa. Puxando pela memória, lembro-me de outros assuntos (causos) que estão diretamente ligados ao Coronel Theophanes e que passo a relatar: RECADO PARA O SARGENTO PHILADELPHO Quando a nação já voltava a normalidade, em fins de 1926, após a revolução de Preste (Luiz Carlos Prestes, Izidoro Dias Lopes e Siqueira Campos), que se espalhou por todos os Estados do Brasil, de Sul a Norte e de Leste a Oeste, o coronel Theophanes, de passagem para Vila Bela (atual Serra Talhada), acompanhado de muitos militares, todos montados, possivelmente vindos de uma missão contra os pequenos grupos remanescentes dos revoltosos, parou em Nazaré, distrito de Floresta que fica entre as duas cidades, falou com meu irmão Hercílio, pessoa de sua inteira confiança, para que ele enviasse um mensageiro até a fazenda Bandeira - distante de Nazaré 08 (oito) léguas, para avisar ao sargento Philadelpho se encontrar com ele, no dia seguinte, em Vila Bela. Naquele momento Hercílio não encontrou nenhuma pessoa para mandar o recado. Não tendo outra pessoa, meu irmão me pediu para atender ao coronel. Naquela época eu estava com apenas 14 anos de idade. Por volta das 17 horas, sai montado em um burro e com muito medo, pois tinha de atravessar por estradas mal-assombradas durante a noite. Existiam várias histórias de assombrações naqueles caminhos como, por exemplo: Entre Nazaré e o Jenipapo, na Ipueira, existia, diziam, “um monstro” ou uma alma penada que metia medo em todos que por ali passassem. Essa assombração agia até mesmo durante o dia, saindo do Córrego de Cícero Leite e subia uma Ladeira, desaparecendo no seu topo. Logo após a nossa propriedade, no Jenipapo, mais precisamente na Serra do Pico, falavam que ouviam gemidos e esturros e que as redes eram desarmadas em algumas residências próximas aquela serra. O povo teve que mandar celebrar várias missas para acalmar as almas que por ali vagavam. No Enforcado, teve um penitente que se tornou uma espécie de líder espiritual, tal qual um Conselheiro. Ele dormia sobre uma pedra. Após informar aos seus seguidores que tinha cumprido sua missão na terra foi embora daquele lugar. Tempo depois algumas pessoas afirmavam que viam aquele cidadão acompanhado por assombrações. Quero que fique registrado que, mesmo como medo de assombrações, eu nunca vi tais fantasmas. Segui pelas fazendas Ipueira, Jenipapo, Pico, Paulo, Enforcado (antiga “Garrote Enforcado”), Várzea do Iço, Pedra Ferrada, Cachoeira. Já distante umas 03 (três) léguas de Nazaré, cheguei, às 19 horas, na casa do amigo de Hercílio, o Sr. João Mansinho. Meu conhecimento do caminho era até a fazenda Cachoeira, dali em diante não conhecia nada e Hercílio havia me pedido para que João Mansinho me acompanhasse. João Mansinho levantou-se para me atender e perguntou-me quem eu era. Prontamente informei que era irão de Hercílio e que tinha um recado para ele. Após informar o recado, João Mansinho me disse que um pedido de Hercílio era uma ordem para ele. João Mansinho dirigiu-se até o cercado, pegou um burro, selou e seguimos viagem para a fazenda Timburana, 02 (duas) léguas distantes, sem nenhuma moradia e estradas ruins, isto já era por volta das 02 horas da madrugada. Dali até a fazenda Bandeira – propriedade do coronel Theophanes, ainda faltavam mais 03 (três) léguas. Chegamos na fazenda Bandeira por volta das 04 horas da madrugada. Chamei o sargento Philadelpho e ele perguntou o que era. Respondi que era irmão de Hercílio e que trazia um recado do coronel Theophanes dizendo que era para ele se encontrar em Serra Talhada. Aquela altura eu não tinha mais condições de voltar pela mesma estrada, visto estar vencido pelo cansaço e com muito sono. João Mansinho voltou pela mesma estrada e eu fiquei na propriedade. Pela manhã, após tomar um café, segui pela estrada que vai até São João do Barro Vermelho – 03 (três) léguas distante da fazenda Bandeira, porém sem nenhuma casa. A estrada era boa, pois, passavam por lá os romeiros que vinham de Alagoas para o Juazeiro do Padre Cícero. De São João para Nazaré são 07 (sete) léguas, passando por: Ribeira, São José, Cipós, Baixas, fazenda Lagoa do Mato, Lagoa Cercada, Ribeira da Ema, fazenda Ilha Grande, Zé Dias, Boião e, finalmente, Nazaré. GADO ZEBU No ano de 1928, quando Hercílio era comissário de São João do Barro vermelho, hoje Tauapiranga, distrito de Serra Talhada, o coronel Theophanes mandou chamá-lo em Serra Talhada com o objetivo de transportar um gado Zebu que ele havia comprado em Limoeiro e que já havia chegado em Serra Talhada. O gado estava na fazenda Saco – o local tem um grande açude do mesmo nome. Segui com Herculano para Serra Talhada e, lá chegando, na casa do coronel, ele nos mandou para a casa de seu amigo Preto Inácio, na fazenda Carrapicho. Lá permanecemos de um dia para o outro a fim de liberar o gado que estava sendo vacinado. Logo recebemos ordem para apanhar o gado na fazenda Saco. Seguimos pela fazenda Jazigo, Saco da Rocha, Varzinha, Conceição, Caiçarinha e, finalmente, Bandeira – propriedade do coronel. O coronel havia autorizado meu irmão a tirar uma novilha para ele. Este novilho foi levado para Nazaré, na fazenda Jenipapo, de propriedade do sogro de Hercílio e de seus cunhados. Naquela fazenda a presença do Zebu melhorou a raça crioula. Após a chegada do gado na fazenda Bandeira, dias depois, o coronel mandou deixar em Nazaré, vindo de Floresta, 02 (dois) sacos de farelo para o gado e pediu para Hercílio enviar para a Bandeira. Mais uma vez fui portador. Montado no burro e puxando um jumento que levava a carga, sai de manhãzinha pela fazenda Boião, Zé Dias, Ilha Grande, Ribeira da Ema, Lagoa Cercada, Lagoa do Mato, Ribeira das Baixas, Cipós, São José, São João do Barro Vermelho, até ali percorri 07 (sete) léguas. Segui viagem, atravessando 03 (três) léguas sem nenhuma moradia e em terreno só de areia, até chegar a fazenda Bandeira, por volta das 16 horas. Deixei os sacos de farelo e permaneci até o dia seguinte, quando retornei pelo mesmo itinerário até Nazaré. KYDELMIR
DANTAS (Presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do
Cangaço - SBEC) Caro
Geraldo. Tuas obras vêm resgatar o que de mais se necessita para as novas e futuras gerações. O Capítulo a parte da História do Cangaço, o lado da Polícia Militar, das Volantes. Quando se fala em Cangaço, a maioria das pessoas só tratam do lado dos Cangaceiros. A Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC, tem nos seus estatutos que devemos, como sócios, pesquisar todos os temas que estão intimamente ligados ao cangaço. Onde não poderia faltar este lado que é a História dos combatentes aos cangaceiros, as Polícias Estaduais e os Volantes (militares e civis). Portanto, nobre pesquisador e escritor, sigas em frente! A História do Brasil te agradece. Nós, pesquisadores, ficamos com esta bela dívida de gratidão. Saudações cangaceiras. JOÃO
DINIS PALHETA MENDES (Escritor/Pesquisador Português) Portugal-Évora, 2005-Janeiro-14 Meu caro e bom amigo Geraldo Ferraz Recém chegado ao Brasil, apresentados que fomos na União Brasileira de Escritores, senti a forma simpática e galhana com que dividia palavras amigas com todos os frequentadores da UBE e também comigo. Conhecido o escritor havia que conhecer a obra. Assim, comecei por ler o I e depois o II volume de "PERNAMBUCO NO TEMPO DO CANGAÇO". Confesso que mentiria se não dissesse que, ao reparar no estilo "relatório militar" pensei encontraria alguma dificuldade em iniciar, digerir e acabar a leitura da mensagem que o escritor ali vertia. Erro meu... entrei na leitura de mansinho e não é que, aquele pseudo relatório militar, me foi envolvendo, progredindo no terreno, encontrando os vales e montes da minha ignorância sobre o Brasil e, confesso, fui devorando as palavras, aprendendo parte da História do Brasil, de Pernambuco e seu Sertão, até de Portugal e de países vossos vizinhos. Que lição recebi do meu bom amigo através dos 2 volumes do seu "PERNAMBUCO NO TEMPO DO CANGAÇO". Através das suas palavras conheci e convivi, nas cenas narradas, com o brioso militar Theophanes Ferraz Torres seu jogo gato e rato com o famigerado António Silvino, tentando acabar com as arremetidas de Lampião e seguidores contra os casarios do Sertão e todos que tentavam viver e sobreviver. Que me diria que iria viver mentalmente, através da sua pena, parte da história do crescimento de Recife, da vida quotidiana do Sertão, das divergências com a Argentina sobre a fixação de fronteiras com o Brasil, dos primórdios da aviação, do construir da cooperação entre Estados, dos períodos revolucionários acontecidos, etc. Para ir saboreando através das suas palavras, as vivências, aventuras e desventuras, o crescimento de Pernambuco e da sua Cavalaria, dos Estados limítrofes a té do Brasil, fui tentando acompanhar o valoroso Theophanes e seus sacrificados volantes ,viajando com ele sertão adentro, passando por Victória, Nazaré,Triunfo, Floresta, Serra Talhada, Salgueiro, etc. Com ele persegui Lampião; com ele viajei pelas quenturas do sertão, passei sede e fome, recebi homenagens e até incompreensões e, chegado ao términus, fiquei mais rico da vossa história, da nossa história e até da minha história. Enfim... com a leitura da sua obra tive oportunidade de encontrar ancestrais cromossomas, relembrar o meu velho Alentejo português muito irmão de vosso sertão, terra onde os homens vivem agarrados no ventre da terra quente, madrasta muitas vezes mas, mesmo assim, adorada como terra mãe. Posto isto, agradeço à sua pena que tão bem escreveu e descreveu um pedaço de tempo Pernambucano, seus heróis e seus vilões, seus engenhos, fazendas, moradores, coronéis, caatingas e brejos e, muito especialmente ao escritor Geraldo Ferraz que tão bem soube ordenar e dirigiu essa pena para verter no papel o seu grande trabalho de pesquisa, as suas idéias e palavras que, com tanto talento nos envolveu e nos fez partir com Theophanes para essa viagem temporal de antanho. Meu
caro Geraldo Ferraz, fico a aguardar a nova viagem através
da sua pena. Receba aquele fraternal abraço deste seu admirador e amigo certo e ao dispor: J. D. Palheta Mendes VITAL
CORRÊA DE ARAÚJO (Presidente da União
Brasileira de Escritores em Pernambuco, UBE-PE) Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho tende a numerar uma legenda na moderna pesquisa - entre sociologia, história e literatura - do fenômeno Cangaço e, mais ainda, da realidade militar desses tempos conturbados de lampiões e conselheiros, de jagunços e "macacos" (volantes). O alentado, profundo e minucioso estudo "Pernambuco no Tempo do Cangaço. Theophanes Ferraz Torres, um Bravo Militar", se peca pelo óbvio de que, por definição, o militar é um bravo, perdoa-se pelo muito que encerra de um acervo rico (e oculto) de nossa história recente. Trata-se da trajetória de um pernambucano, cuja vida curta foi intensa e confunde-se com os acontecimentos decisivos para o Brasil, nas três primeiras décadas do século 20 nordestino. O que torna fascinante o veio - sendo virgem - de pesquisa histórica, empreendida pelo jovem e decidido neto de Theophanes, é que ele foca e descobre um ângulo inédito de um campo de pesquisa fecundo, que é o do ponto de vista militar dos sucessos da história nordestina, desde Conselheiro - ou talvez desde a guerra vitoriosa de Pernambuco contra a Holanda poderosa, quando pela primeira vez na América organizaram-se milícias populares, em ação típica das guerrilhas modernas, alicerces que são das nossas Polícias Militares e embriões do Exército brasileiro. O cangaceiro e seu par (ímpar), o militar, no seu igualmente e brutal comportamento (em relação a nossa época) são homens e não coisas, são (foram) seres vivos, comuns, ativos e jamais uma entidade sociológica, "um tipo de uma época típica" ou cobaias para estudos teóricos de história. A Geraldo não interessa a transcendência, mas o imanente à história, que a pesquisa oferece ou o historiador colhe, sob o guante de sua visão diacrônica. Geraldo Ferraz não se apropria gratuitamente de um tema afetivo, porém intervém (in media res) no centro de acontecimentos históricos valiosos, ainda quase que ocultos; em outras palavras, desvenda o iceberg da história militar nordestina no período de 1880 a 1940, não para exprimir dramas sociológicos, atos burocráticos, nem para criar realidades ficcionais (tão reais quantas são imaginadas). Ele prova fartamente que nem os cangaceiros, nem os policiais eram personagens marginais, mas centrais de uma história em (de)formação, de cujos eventos usufruíram pelo bem ou pelo mal. Os cangaceiros e as volantes, e seus fanáticos comandantes, imersos numa região de caatinga e solidão, de cascavéis e espinhos, foram sujeitos ou personalidades heróicas de uma saga, em que o confronto de forças era implacável e impiedoso, invisível e diuturno, por vastos anos, estendidos e marcados por sangue e crença nas razões do conflito. O livro é a biografia de um homem (1894 - 1933) e de um tempo, de uma região e de um clima social; é o romance de toda uma história regional rica, não em forma de epístolas ou ficções, mas de atos valorosos e gestos de coragem pessoal, que lastreiam uma poderosa situação militar, através de um legendário personagem, cuja ação fazia e marcava os acontecimentos, e assim se nivelam os feitos de Virgolino e do Coronel Theophanes. A Geraldo Ferraz não atrai o mito, porém a verdade por menos romântica que seja; ao moderno pesquisador que ele é não interessa o alfarrábio pelo alfarrábio, nem o que de imobilizado - no tempo e no texto - contenha o universo levantado, mas importa a totalidade, o contexto e a interpretação - sem preconceitos - que permita reconstituir a realidade do passado, tijolo a tijolo, alma a alma, ou seja, a projeção que a injunção dos fatos permita de modo que as trilhas da história tornem-se lumes a clarear os caminhos do presente e as sendas do futuro. É uma novela humana e telúrica, de um tempo árido, solo do mais autêntico misticismo cristão, messiânico e milenarista, que fertilizou de heroísmo e feitos singulares, um lugar mais árido ainda, o Sertão Nordestino, fecundo em ações e gestos humanos, que dignificam e enriquecem a legenda épica, que a pesquisa histórica traz à tona. Outro mérito do autor é estender a significação e o sentido do termo Cangaço, extraindo fenomenologicamente a nova e larga acepção, que engloba todos os fenômenos específicos de um período conturbado, que envolvia policiais militares e cangaceiros, em aberto conflito de vida e morte, ao longo da Primeira República, no âmbito de uma realidade política, econômico-social e religiosa sui generis. FREDERICO
PERNAMBUCANO DE MELLO (Escritor/Pesquisador Recifense) Não é de hoje que temos insistido no quanto são valiosos os estudos sobre temas policiais, feitos ou não por quem desenvolva ação profissional nesse campo de tanto fascínio mas de recompensas escassas quando exercido com critério. Afinal, todos são parte na questão da defesa social, do que decorre ser legítima a dedicação de paisanos capazes de penetrar no tema por todas as vias de abordagem, sejam estes cientistas sociais ou políticos, juristas ou deontólogos, profissionais de ciências físicas ou naturais, que de todos estes campos e de outros mais se nutre a administração da justiça criminal, tão relevante que se pode dizer dela o que Clemenceau, condutor máximo dos negócios da França na Primeira Guerra Mundial, disse da atividade militar: não dever ficar restrita a generais. A criminalidade dos dias atuais vai da expressão mínima que se contém no fenômeno endêmico ou crônico - sujeito à compressão embora inextinguível, além de tolerado costumeiramente pelo geral da população - até aquilo que o general Prim chamou de guerra social, ao se debruçar sobre o quadro criminal de algumas porções da Espanha de 1870, sobretudo a Andaluzia. Naquele momento delicado do país peninsular, não se estava vivendo apenas um surto de epidemização do crime, brotado do aquecimento contingente do fenômeno endêmico, tradicional por sua antigüidade e alastramento, mas uma verdadeira pandemia. Uma guerra social, para usar o conceito de Prim, que guarda semelhança pela qualidade e pela intensidade com a figura militar da guerra total, por ser desta uma espécie de tradução doméstica, intranacional, não raro regional. A
Espanha de 1870, afogada em
várias de suas províncias por uma guerra social
que envolvia a todos, pobres ou ricos, precisou deter por um instante
os negócios de estado mais amenos e se debruçar
sobre o problema, a cata de homens e de idéias. Estas
últimas, necessárias tanto quanto os primeiros, a
depender - como há de se dar invariavelmente - da
organização dos dados, da
apuração dos elementos factuais levantados, da
interpretação do teor de subsídios
recolhidos da ação, em uma palavra: de estudos
policiais. Não foi através de outro caminho que
veio a se impor a ação de D. Julián
Zugasti y Sáenz, designado governador civil de
Córdoba com poderes especiais à altura da
circunstância sombria. E Zugasti se fez o homem providencial.
Ânimo e corpo de 33 anos, o apoio do poder público
e a ambição de erguer alto o seu nome por toda a
Espanha, eis a composição básica desse
herói da causa da ordem pública, em quem a
volúpia da ação encontrava rival
apenas no desejo de conhecer a fundo as estruturas
sócio-econômicas das áreas taladas,
cuja iniqüidade as fazia converter - melhor se dirá
perverter - em molas desgraçadamente azeitadas da
circunstância criminógena que ali vem a deitar
raízes de ferro. Zugasti quer mais. Ouvidos abertos a
confissões, vai aos poucos conhecendo a alma velhaca dos
bandidos, espécie de caverna lancetada de luz por um outro
gesto que uma nobreza marginal e toda própria faz surgir.
Aprende que o bandido não é nada sem o protetor,
via de regra, um sujeito bem posto socialmente; que qualquer fronteira
é aliada do crime; que o terror cega e emudece a testemunha,
paralisando a justiça; que a ausência latina de
espírito coletivo mina o desejável
esforço popular em busca da paz social; que a imprensa mal
orientada, soprando na fogueira da vaidade, aquece o crime, sendo o
bandido mais vaidoso que uma prima-donna de ópera, como
sustentava Lombroso, da sua experiência profissional. Tantas
informações absorve o incansável
Zugasti que apenas seis anos passados do início de sua
atuação, daquele ano sangrento de
estréia, 1870, em que sua equipe dá morte a 96
bandidos, vem a surpreender a Espanha com o lançamento da
obra El bandolerismo: estudio social y memórias
históricas, dez tomos de um saber preponderante mas
não exclusivamente empírico, onde as
constatações de fundo sociológico
encontram abono em passagens da vida rocambolesca dos bandidos mais
famosos, tudo isso se esbatendo contra o pano-de-fundo do mandonismo
político em que se compraziam as oligarquias de
expressão paroquial. Tivemos aqui o nosso Zugasti. Um duro e eficiente Zugasti tropical, a cujo desassombro no campo da repressão ao crime Pernambuco deve mais do que tem sabido reconhecer. Era ainda bem jovem Eurico de Souza Leão quando o governador Estácio Coimbra foi buscá-lo para que chefiasse a então Repartição Central de Polícia, às voltas, no interior, com uma espécie de estado paralelo que Lampião implantara de Rio Branco, hoje Arcoverde, até os confins lindeiros com o Piauí, englobando as ribeiras do Ipanema, Moxotó, Pajeú, Navio e Brígida, para falar apenas das áreas pernambucanas de domínio do notório capitão-de-cangaço. Grupo de 120 homens armados a fuzil Mauser, todos bem trajados, montados e agindo ao comando de um corneteiro, assim estava Lampião no auge de sua carreira, naquela segunda metade de 1926. Eurico, todo energia, reorganiza o serviço policial volante, incrementando a tendência surgida no governo anterior de alistar sertanejos para a campanha num meio onde o estranho comprovadamente não se saía bem. Ainda numa expressão de respeito à peculiaridade natural do semi-árido, autoriza o comando das volantes em Vila Bela, hoje Serra Talhada, a adquirir alpercatas-de-rabicho e outros utensílios da produção artesanal sertaneja, com estes equipando o nosso soldado volante. E não fica nisso. Convencido de que o acobertamento ao cangaço era enorme, envolvendo de coronéis a vaqueiros, passando por almocreves, tangerinos e mascates, move perseguição violenta a todos esses favoneadores do banditismo, sem exclusão de autoridades públicas suspeitas de prevaricação muitas vezes rendosa. Chega a remover autoridades judiciárias, usando do seu prestígio junto ao governador. Incansável, determinado, obcecado com a missão toda espinhos que tinha nas mãos finas de dandy da oligarquia açucareira pernambucana, vai desferindo golpe sobre golpe no grande bandoleiro, que finda sem coiteiros, carente do mínimo em munição de boca e de briga, e com o grupo reduzido ao seu estado-maior de homens desesperados: Luís Pedro - lugar-tenente, de quem o chefe dizia valer por trinta bocas de fogo - Virgínio, Ezequiel, Mariano e Mergulhão. É esse grupelho batido e faminto, cabelos nos ombro, vestes dilaceradas, que chega ao beiço do São Francisco à altura de Petrolândia e se mete numa canoa no rumo de uma vida possível no sertão baiano de Glória, em fins de agosto de 1928. De apenas dois anos de campanha intensa necessitara Eurico para fazer desmoronar o império de Lampião, expulsando-o de Pernambuco. Êxito
tão
assinalado não se há de creditar a causa
única, é claro. Mas houve na campanha de Eurico
uma providência inovadora, fruto de estudos sobre a
matéria com que se achava a braços, a que ele
próprio atribuía uma preponderância
sobre todas as demais. É simples. Ao contrário do
que imaginam os espíritos que se deixam cegar pelo brilho
existente na face épica do cangaço, há
nessa vida das armas impurezas bem pouco românticas.
Lampião, um cangaceiro profissional dotado de talento
administrativo singular, aceitava sociedade com coronéis do
interior, chefes municipais de grande destaque em alguns casos, deles
recebendo financiamentos para empreitadas de rapina. Dentro do melhor
espírito negocial, os sócios beneficiavam-se com
quinhões do apurado. Por outro lado, a fortuna de saque que
passava pelas mãos do cangaceiro lhe permitia corromper meio
mundo, sobretudo os mais necessitados. Não estranha,
portanto, que a rede de coiteiros de Lampião fosse enorme,
além de plantada em todos os degraus da pirâmide
social sertaneja. Vendo isso, o jovem chefe de polícia
assestou suas baterias sobre os coiteiros de toda ordem, preferindo dar
com um destes na Cadeia Nova - como o sertanejo chamava a velha Casa de
Detenção do Recife - a ter notícia de
bandido passado pelas armas, debaixo de cujo cangaço muitas
vezes o que se encontrava era um rapazola sertanejo atraído
para aquela vida pelo fascínio da aventura, aliado
à falta completa de oportunidade de ascensão
social e de realização humana condigna. Nisso
seguia, sem o saber, os passos de seu antecessor ilustre. Zugasti
fôra implacável contra os encubridores, alguns dos
quais ligados à nobiliarquia do país. Outro
ponto de que Eurico teve a
sensibilidade de cuidar foi o das vocações para o
trabalho de polícia, prestigiando, além de nomes
novos, o daqueles que já dispusessem de uma
mística de sucesso junto aos companheiros de trabalho e,
tanto que possível, junto à opinião
pública. E é assim que seu caminho vem a se
cruzar com o do então major da Força
Pública do Estado, Theophanes Ferraz Torres, um pernambucano
de Floresta que ainda no verdor dos 20 anos, como alferes, tivera a
fortuna de aprisionar, ferido pelo fogo de sua volante em combate
verificado num grotão do município de
Taquaritinga, em fins de 1914, o mais famoso bandoleiro do
país à época, o chefe de
cangaço Antônio Silvino, imortalizado pela poesia
de gesta dos mestres mais altos que o Nordeste produziu um dia, a
exemplo de Francisco das Chagas Batista, Leandro Gomes de Barros e
João Martins de Ataíde. Meses antes, em Serra
Talhada e em Triunfo, o quase menino Theophanes dera prova de seu valor
entrando em combate desassombradamente com os cangaceiros - chefes de
bando, ambos - José Cipriano e Manuel Soares. Alistado em
1912, já era herói ao se por a serviço
de Eurico em fins de 1926, pois que vinha de uma série de
comissões honrosas - e arriscadas - que se tinham sucedido
em sua vida após o feito de 1914, inclusive a da
tragédia de Garanhuns, em 1917. Mas como em
polícia valentia não é tudo,
não houve proveito maior para ele que receber do jovem chefe
instruções de como organizar a
estatística criminal, aprimorando a
confecção dos boletins, com o uso intensivo da
fotografia, tudo confluindo para uma divulgação
de êxitos imprescindível a que se levantassem as
energias da opinião pública em favor da
militância diuturna que a paz social exige sempre como
condição para que não deserte de uma
dada sociedade, notadamente quando premida por surto criminal violento,
como se dava no sertão pernambucano no meado dos anos 20,
tempo em que se dizia que, do Moxotó para o
Pajeú, saindo no Navio, o pé de pau que
não estivesse escondendo um cangaceiro era porque ali
já se achava um soldado... Como
braço fardado do duro
chefe de polícia do governo Estácio Coimbra,
Theophanes divide com este as honras da
introdução em Pernambuco da polícia
científica e da moderna administração
da defesa social, a ele cabendo, em boa parcela, a expulsão
do rei do cangaço de nosso território, segundo
vimos acima. E tanto assim é que ao fazer um raid de
vitorioso por todo o sertão do Estado no final de janeiro de
1928, Eurico se faria acompanhar de Theophanes. De um Theophanes
tão credenciado por serviços que estava prestando
ao perrepismo em ocaso na direção de governos
sucessivos na República Velha, que a queda desta, em 1930, o
arrasta ao xadrez na Casa de Detenção, para onde
havia enviado tantos criminosos. Ao tacão do
capitão revolucionário Muniz de Farias, agora o
bandido era ele, Theophanes, que, da planície, colhe
então a maior homenagem a que pode aspirar um policial reto
e comedido: o reconhecimento dessas virtudes por aqueles a quem
expugnou no cumprimento do dever. Ao marchar de cabeça
erguida para a cela que lhe tinha sido destinada, o famoso oficial
colhe o respeito do cangaceiro Antônio Silvino, que ali se
achava desde 1914, e dos demais presos, sobre os quais o condottiere
das caatingas exercia liderança indiscutível. Do
sossego da cela, Silvino dispusera de 16 anos para ajuizar da grandeza
moral de seu captor, que o tivera nas mãos no mais arredado
centro de caatinga que se possa imaginar, a se esvair em sangue, o
pulmão varado de bala, e lhe poupara a vida. Contra a
opinião raivosa de vários dos soldados da
volante, e até mesmo a do sargento José Alvino de
Queiroz, lhe poupara a vida. E o entregara, no Recife, ao governador do
Estado, o general Dantas Barreto. Ouvimos
certa vez do
filósofo espanhol D. Julián Marias,
espécie de primeiro discípulo de Ortega y Gasset,
que não gostava de curriculum vitae. Esses pretensos resumos
de vida, dizia ele, sofrem a falsidade de neles caber apenas o que se
fez, não o que se deixou de fazer. Não aquilo de
que, num dado momento, às vezes extremo, nos abstivemos. E
juntava: é aí que se esconde o valor humano, por
vezes. No
caso de Theophanes, um
herói da guerra social em Pernambuco, surda e prolongada nos
anos 20 e 30 - como voltou a ser hoje, desgraçadamente -
não nos interessa avaliar se foi maior pelas centenas de
criminosos que retirou do convívio da sociedade ou pelas
vidas dos vencidos que soube poupar, porque uma e outra dessas
ações integram o perfil delicadíssimo
da atividade policial. E nesta, arrostando incompreensões,
Theophanes soube alçar-se ao patamar mais alto, sua legenda
impondo-se a quantos em nosso Estado venham a integrar a trincheira
mais avançada da defesa da sociedade. Com a biografia intitulada Pernambuco nos tempos dos cangaceiros: um bravo militar, que escreveu sobre o avô ilustre, em anos de pesquisa de que fomos testemunha, Geraldo Ferraz credencia-se à gratidão de quantos se interessem pela nossa história, de modo especial pelo traço humano superior que esta tantas vezes encerra. ALBERTO
FREDERICO LINS (Escritor/Pesquisador Gravataense) O sertão guarda, no corpo imenso de serrotes, chapadas e devesas agrestes, as cicatrizes de duzentos anos de lutas, dois séculos enfrentando o destino na mira de seus rifles reiúnas e na ponta acerada de seus punhais rabo de galo. Foi assim em Canudos, assim é ainda hoje, inviolado - porque não rasteja e nem pede perdão. Os sertões são os Ferraz e Novais, Pereira e Sá, Jurubeba e Sampaio, Goyana e Jardim, Alencar e Saraiva. São nomes insculpidos nas rochas de suas encostas gretadas, mas onde a honra se escreve com "H" maiúsculo. É uma terra que nem dá e nem pede quartel. O sertão é Floresta e Juazeiro, Serrita e Flôres, Triunfo e Pedra, Mata Grande e Santa Maria da Boa Vista, Jatobá e Patamuté e a solidão infinita do Raso da Catarina. É a personificação geográfica da dor e da injustiça, mas, por outro lado, da coragem e da vindita. Lampião, quando se temia de homens, chamavam-se eles Mané Neto, Euclydes e Odilon Flor, Gomes Jurubeba e Hercílio Nogueira. Não fugia, na extrema de uma luta perdida, de "mestiços neurastênicos do litoral", como diria Euclides da Cunha, mas de titãs de alparcatas de couro cru e fuzis aperrados. E este sertão de Princeza e Nazaré, Serra Talhada e Sertânia, não se dobrou, jamais, se não à dignidade e ao dever. O que sempre teve de melhor na força militar de Pernambuco foi o sertanejo dessas regiões esquecidas. A terra da justiça pessoal, intransferível, sem a interferência conivente da lei, elaborada bem longe da trilha das "esperas", emboscadas e recontros peito-a-peito. A lei oriunda da corrupção do poder elitista, sem força diante da exasperação cíclica de centenárias questões familiares. E essa lei fraldiqueira pouco vale, e quando vale!, defronte da pobreza, das perseguições e das pugnas no soalheiro do Alto São Francisco ou nas ribeiras escaldantes do Pajeú. Aí, nessas paragens de uma sociedade de parentes, decide-se o pleito no enfrentamento e na justiça sumária do "código ético", de que fala Frederico Pernambucano. Aí não pontificam as regras forenses: estrondejam os mosquetões de Jesuino Brilhante e Sinhô Pereira, Cassimiro Honório e Luiz do Triângulo ou das espingardas mortíferas de Antonio de Matilde e Ângelo Roque. É o ranger de dentes de uma raça forte, constitutiva do povo brasileiro, e sua civilização original, neste pedaço de nordeste ensolarado, e que sobrevive, heroicamente, nos campos estorricados, limitados, lá longe para o sul, pelo Liso do Suçuarão, passando pela Chapada Diamantina e indo debruçar-se, soberbo, sobre as lançantes da cumiada do Araripe e as ardências do vale do Jaguaribe. E
neste mundo de heróis,
Theophanes Torres foi personagem de uma saga memorável, que,
hoje, à luz da História, destaca-se pela grandeza
de seus tipos. Sentando praça bem moço, na
polícia militar de Pernambuco, teve a sorte de prender
Antônio Silvino no início de sua
missão, ganhando imediato renome. Mas, apesar da carreira
militar brilhante, não recebeu, até este livro de
seu neto Geraldo Torres Filho ser publicado, a crítica
justa, que o levasse a ser visto e compreendido, dentro de seu tempo e
no contexto do cangaço, com justiça e
isenção. Chefe amigo de seus soldados e oficiais,
foi, esta dedicação, um traço de
caráter efetivo e afetivo, por toda a vida, sem medir
sacrifícios. Às acusações
que lhe fizeram, contrapõe-se a
vocação que o levou, numa época de
extrema violência e em ambiente hostil, a vaguear pelos
caminhos do sertão, à caça de homens
revoltados, de coragem inacreditável, e que se chamaram
Cristino Gomes da Silva Cleto, Luiz Pedro do Retiro e Marcelino
Ribeiro, guiados por um guerrilheiro-símbolo que assinalou,
na História do Brasil, o período mais sangrento
da formação social do povo nordestino: VIRGULINO
FERREIRA DA SILVA. Debruçado sobre o sertão e suas famílias, tem o historiador um microcosmo de fatos implacáveis, e, entre eles, nos componentes de ações que os formam, este comandante de "volantes", nas trilhas dos carrascais das caatingas no único serviço que prestou: dedicação exclusiva à vida militar no combate ao cangaço. Morrendo moço, em 1933, com apenas 39 anos, participou intensamente deste drama. E morreu, afirmo, desiludido, depois da bernarda quarteleira de 1930, que teimam em chamar de "revolução", ao ser perseguido porque cumpriu um dever de lealdade, e as assistir alçarem-se, premiados, os oportunistas e os medrosos. Theophanes Torres não soube, não aprendeu e não quis trair. E, não traindo e nem conseguindo morrer de arma na mão, foi traído pelo coração e se foi longe dos campos comburidos dos grotões do Brígida e do Pajeú, do Panema e do Moxotó, onde estiolou a brevíssima mocidade lutando pela lei, em recontros memoráveis, que a História resguardou para sempre. GRAVATÁ/Out./99. CARLOS
ANTÔNIO DE SOUZA FERRAZ (Escritor e Coronel da PMPE) O
autor e a obra, eis os dois fatores
palpáveis. O autor é neto de quem o motivou a
escrever, o sempre honrado e reconhecido Tenente-Coronel Theophanes
Ferraz Torres. Se o avô teve uma admirável folha de serviços dedicada ao bem comum e à segurança da sociedade, o neto, que não o conheceu em vida, rende a ele o tributo de narrar-lhe os feitos, estudar-lhe a personalidade e registrar o exemplo. Neste
livro, os fatores morais e
familiares são belíssimos: enaltecedor o
mérito do avô, louvável o gesto do neto. Compartilhamos,
algumas vezes, o
prazer de Geraldo comentar novos fatos que pesquisara sobre o ilustre
ancestral. Notava-se o contentamento da descoberta e a ufania da
revelação. Caríssimo
Geraldo:
você, num misto de orgulho e carinho, fez-se
biógrafo do vovô Theophanes que, em atitudes
espartanas, combateu criminosos, protegeu a cidadania e defendeu a
legalidade. Orgulhe-se de seu vovô. Nós o exaltamos. BELARMINO
DE SOUZA NETO (Escritor e Coronel da PMPE) Do
herói, neste mundo, a
maior glória É ter suas façanhas
proclamadas. ALEXANDRE
MAGNO sentia inveja de
AQUILES, não por suas proezas d'armas, mas por ter tido um
HOMERO que as cantasse. Quantos heróis caíram no
olvido por não disporem de um cantor à sua altura! A
D. SEBASTIÃO, bradava
CAMÕES nos dois últimos versos do seu imortal "Os
Lusíadas:" ...
"De sorte que Alexandre em
vós se veja, Sem à dita de Aquiles ter inveja." ULISSES,
ENÉIAS e VASCO DA
GAMA, foram heróis ditosos, que tiveram cantores geniais, do
porte de HOMERO, VIRGÍLIO e CAMÕES. O
legendário Coronel
THEOPHANES FERRAZ TORRES foi, sem dúvida, um
herói. Um "Macabeu," dos tempos bíblicos
não teria distribuído, como ele, tantos golpes
fulminantes contra o banditismo de trabuco e chapéu de
couro. Depois de haver afastado definitivamente o cangaceiro
ANTÔNIO SILVINO da sua sinistra profissão, dedicou
sua vida laboriosa à ordem pública, combatendo o
crime que infestava a zona rural e cujo expoente máximo era
LAMPIÃO. Atuando
num tempo em que a
política interiorana era representada pelos
"coronéis" fazendeiros, mas desafiada e afrontada, a toda
hora, pelo "governador vesgo" das caatingas, revelou-se THEOPHANES um
bravo militar e hábil "político", equilibrando
sua autoridade e o poder do Estado em meio àquela intricada
partida de xadrez, que se jogava no Sertão. Ao
deixar a vida, ainda
moço, tinha motivos para supor que se tivesse libertado da
lei da morte. Não estava enganado. Necessitava, entretanto,
como todo herói, de um cantor que bem alto o proclamasse.
Apenas ignorava quem viria este a ser. Como
num silogismo, agora temos um
THEOPHANES FERRAZ TORRES, homem venturoso, que se integraliza e
perpetua através da robusta e comovente obra deste
sensível e talentoso memorialista GERALDO FERRAZ TORRES, o
neto à altura do avô e que dele com tanta
razão se ufana. Tudo
muito bonito!
Parabéns! CARLOS
BEZERRA CAVALCANTI (Escritor e Coronel da PMPE) A
Polícia Militar de
Pernambuco, assim chamada a partir de 1947, tem como símbolo
um círculo de estrelas ombreadas, que protegem uma outra,
central e maior. Essa
"constelação" periférica, acredito,
pode ser associada aos heróis da briosa Força
Policial que em sua trajetória tanto tem feito por esta
terra azul e branca, uma das principais responsáveis pela
grandeza do verde e amarelo nacional. A
estrela maior, por certo, simboliza
o bravo Tenente-Coronel Theophanes Ferraz Torres, reconhecendo-se,
desta forma, sua bravura e onipresença nos principais fatos
da história pernambucana, durante as primeiras
décadas do século XX. Por
assim dizer, as cinco pontas que
constituem a estrela maior representam: 1º
- O grandioso feito da
prisão de Antônio Silvino, que mesmo depois de
encarcerado, não poupou elogios ao jovem Alferes. 2º
- Sua valorosa
participação no episódio que ficou
conhecido como a "Hecatombe de Garanhuns", quando demonstrou a
necessária imparcialidade e senso de justiça que,
por certo, teriam evitado o incidente se, naquela ocasião,
Theophanes ali estivesse. 3º
- Seu desempenho no
combate ao banditismo coadjuvado por valorosos companheiros. 4º
- A defesa da legalidade
durante a Revolução de 30. 5º - Por nos legar, em 2ª geração, o pródigo pesquisador Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho, que conseguiu elaborar, com a genialidade do avô, este livro cujo principal valor é propagar a grandeza do tão esquecido e injustiçado THEOPHANES FERRAZ TORRES. PEDRO
AMÉRICO DE FARIAS (Poeta e Revisor) Os
catorze anos de pesquisa e
anotações do autor resultaram em um
livro-inventário, coletânea de boletins,
correspondências (telegramas, cartas, bilhetes) e portarias,
que revelam, com imensa riqueza de detalhes, os bastidores da
história de Pernambuco, no contexto das três
primeiras décadas do século XX, especialmente no
que se refere à política de segurança
e à organização do aparelho policial
de repressão ao fenômeno social do
cangaço. A
rigidez da lei e a dureza da vida
sertaneja forjam, numa mesma pessoa, a figura do intransigente defensor
da ordem institucional, braço armado do governo ou,
eventualmente, contra, se este muda de mãos, estabelecendo
contraordens de polêmica explicação. THEOPHANES
FERRAZ, antes de sofrer a
prisão, no processo da Revolução de
30, vive um drama digno de Shakespeare, semelhante ao narrado na novela
de João Ubaldo Ribeiro, Sargento Getúlio,
transformada em filme por Hermano Penna, protagonizado por Lima Duarte,
em que um militar, encarregado de conduzir um preso
político, do interior à capital do Estado, quando
chega ao destino, fica sabendo que o poder mudou de lado e que ele,
antes certo, agora está errado. A partir da publicação deste livro, todo pesquisador do tema, qualquer que seja o enfoque do seu trabalho, não poderá ignorar as mil e tantas páginas, que custaram a Geraldo Ferraz vários conjuntos de "mil e uma noites" de insônia. ELENY
PINTO DA SILVEIRA (Diretora do Centro de Estudos de História
Municipal - CEHM/FIDEM) O
Centro de Estudos de
História Municipal - CEHM, criado em 1976, vinculado a
Fundação de Desenvolvimento Municipal - FIDEM,
tem o objetivo de divulgar e preservar a memória
histórico-cultural dos municípios pernambucanos
através do incentivo e do apoio a pesquisadores,
historiadores e memorialistas da história local. Incluir o trabalho do associado Geraldo Ferraz, intitulado "Pernambuco no Tempo do Cangaço - Um Bravo Militar", na Coleção "Tempo Municipal", é motivo do orgulho para o autor, justiça para com o biografado - Theophanes Ferraz Torres - e o dever de missão cumprida para o CEHM. GERALDO
TENÓRIO AOUN (Escritor de Mimoso-PE) Geraldo
Ferraz de Sá
Torres Filho, em muitos anos de pesquisa, das mais cuidadosas, escreveu
o livro "Pernambuco no tempo do Cangaço" (Antônio
Silvino, Sinhô Pereira, Virgulino Ferreira, "O
Lampião"), tendo como subtítulo um bravo militar. Em
mais de mil páginas,
procurou trazer à luz, de forma detalhada, sobejamente
documentada, a espetacular e romanesca existência de seu
avô, tenente-coronel Theophanes Ferraz Torres. Nascido em
Floresta, Theophanes ingressou na Polícia e, de forma
meteórica, com 18 anos, atingiu o oficialato, na
condição de alferes e, logo em seguida, foi
nomeado delegado, fato nunca ocorrido nos anais da Força
Pública. Aos
19 anos, coube-lhe a honra de
prender, ferido, Antônio Silvino, naquele momento, o mais
temido e famoso cangaceiro, que espalhava o terror através
das espinhentas da caatinga do Nordeste. Não era um homem
comum, mas um titã, um ser privilegiado, criado para
comandar, com mão de ferro, homens tão rudes e
primitivos como os próprios cangaceiros, que combatiam.
Theophanes, apesar de se comportar como amigo para os bons soldados,
não admitia falhas e punia com rigor os que hesitavam no
cumprimento do dever. Mesmo
assim, houve quem o acusasse de
desonesto, acusação que foi prontamente anulada
por um simples telegrama, ao chefe de Polícia, do Coronel
Veremundo Soares, de Salgueiro, garantindo a honorabilidade de
Theophanes, de quem era amigo pessoal. Como
os soldados do litoral
não se adaptavam à guerra das caatingas, por
conta das agruras climáticas e de outros fatores de natureza
ecológica, exigiu que a maior parte dos soldados que
constituíam as Forças Volantes fossem compostas
dos rijos e incansáveis filhos das caatingas brabas. Exigiu,
também, que o fardamento fosse adaptado às
circunstâncias, de modo a permitir à tropa
flexibilidade de movimento, objetivando maior mobilidade, fator
essencial numa campanha de guerrilhas. Ocorreu,
então, o que ele
esperava: a luta tornou-se incansável e os cangaceiros,
duramente atacados, perdiam gente na maioria dos embates.
Não pode haver dúvida de que Lampião
foi o mais competente líder da história do
cangaço, tendo a seu serviço verdadeiros
demônios que, por vezes, se excediam em indizíveis
crueldades. Entretanto, sabe-se que, entre os membros das volantes, as
coisas não eram muito diferentes, pois os cangaceiros e
soldados, no geral, tinham a mesma origem em comum. Eles carregavam na
carga genética o registro atávico do tapuia
selvagem e do pioneiro ibérico, responsável pela
extinção de povos inteiros. No
entanto, Theophanes, com a juda do
Chefe de Polícia, Eurico de Souza Leão, levou a
cabo a mais dura campanha contra o cangaço.
Lampião, como poucos homens, passou para o Ceará
e depois Bahia e Sergipe, onde seria exterminado em 1938.
Significativamente, o governo baiano não permitiu que as
volantes pernambucanas opoerassem no território daquele
Estado. O livro é, quase, uma enciclopédia e registra, praticamente, tudo o que ocorreu de importante entre 1894, ano em que Theophanes nasceu, até sua morte em 1933. Durante a Revolução de 1930, foi perseguido e preso, por ter defendido o poder constituído. A memória do tenente-coronel Theophanes Ferraz Torres será, sempre, uma legenda de competência, determinação e coragem na história da Polícia Militar de Pernambuco. IRAN
PEREIRA DOS SANTOS (Cel. PM - Comandante-Geral da PMPE) O
livro - Pernambuco no tempo do
cangaço - Um bravo militar, de Geraldo Ferraz de
Sá Torres Filho, é um resgate
histórico da vida do seu avô, Tenente-Coronel PM -
Theophanes Ferraz Torres. Esse brioso Oficial da PMPE, dedicou-se de
corpo e alma a sua Corporação, na defesa da
legalidade e da ordem pública, "Do Sertão, do
Agreste e da Mata", como hoje se encontra inserido na
Canção da Polícia Militar de
Pernambuco. Nesse aspecto, todos os grandes fatos atinentes
à segurança pública do Estado, de 1914
à 1930, lá estava na trincheira do dever, o
prestimoso e dedicado Oficial da Milícia Pernambucana. Assim
em síntese, ocorreu, quando Alferes (2º tenente)
prendeu o temível cangaceiro Antônio Silvino,
vulgo "o rifle de ouro", em 28 de novembro de 1914, na localidade Lagoa
da Laje, e logo após, pela sua bravura, foi promovido a
1º Tenente. A
sua dedicação
impar, exerceu vários cargos como Delegado de
Polícia de diversos municípios e Comandante de
Volantes, na luta sem tréguas, contra os bandos liderados
pelo terrível Lampião, exercendo o Comando Geral
das Forças Volantes da Zona Sertaneja. Se fez presente, na
consolidação da ordem após a hecatombe
de Garanhuns, em 1917 (em que se imolou no cumprimento do dever, o
insigne "Cabo Cobrinha", hoje nome de rua), onde com empenho e
determinação, prendeu os responsáveis,
pela chacina, o que fez voltar a paz aquele município. Foi
um dos responsáveis, na prisão do assassino do
Governador da Paraíba, Dr. João Pessoa, morto a
tiros em Recife, em 26 de julho de 1930, sendo este
lamentável crime, bastante explorado pela imprensa, e um dos
estopins da Revolução de 04 de outubro de 1930. Com
o advento desta
Revolução, tomou posição ao
lado da legalidade (Governador Estácio Coimbra), quando
Tenente-Coronel comandante do 1º Batalhão,
inclusive, se insurgindo contra o Cmt-Geral da então
Força Pública, Cel. Wolmer da Silveira, para lhe
passar o Comando. Com o movimento revolucionário vitorioso,
em todo o Brasil, conseguiu, ao lado de sertanejos leais, romper o
cerco do Quartel do Derbi, e seguir para o Sertão
Pernambucano, pensando em resistir em conjunto com os militares do
3º Batalhão, sediado em Floresta, comandado pelo
Major Nelson Leobaldo de Morais, o qual foi gravemente ferido, neste
heróico episódio e depois preso. A
trajetória do impoluto e
leal Tenente-Coronel Theophanes encerrou-se quando gravemente doente
entregou-se, em 13 de outubro de 1930, sendo humilhado pelos vencedores
e recolhido em uma cela na Casa de Detenção, do
Recife (hoje Casa da Cultura). Posto
em liberdade vigiada em 21 de
outubro de 1930, encerra sua missão terrena, em Vila Bela
(Serra Talhada) em 11 de setembro de 1933, tendo apenas 38 anos e 9
meses de idade! Agora,
surge o seu neto, Geraldo
Ferraz com o mencionado livro, para resgatar a saga do bravo e
legendário Theophanes Ferraz Torres e anistiá-lo
perante a história onde não só enfoca
os fatos que tomou parte o seu injustiçado avô,
como traz a lume uma época em que se desenrolaram fatos da
1ª República ou República Velha, alguns
desconhecidos para a atual geração! A
PMPE, nos seus 177 anos, de
história e de glórias, que sempre se manteve na
defesa da legalidade, da liberdade e da paz do povo pernambucano, por
um imperioso dever de justiça, através de seu
Comandante Geral, dá o seu aval na
editoração e publicação
desta obra, entendendo ser mais um trabalho sério de
pesquisa para a História de Pernambuco e do Brasil e acima
de tudo, enaltecer a vocação e o
heroísmo de um autentico e valoroso militar sertanejo desta
mais que Sesquicentenária Corporação. Quartel do Derbi, Recife, 03 de setembro de 2002. MANOEL
ANIBAL CANTARELLI (Sertanejo Pernambucano de 88 anos) Prezado Geraldo Torres, Terminei
de ler as 470
páginas do seu livro que você colocou o nome de
"Pernambuco no tempo do cangaço". Com o devido respeito eu
daria o nome de "Theophanes, cangaço e história
de Pernambuco - ou nacional". Somente
o prefácio do
nosso amigo Frederico Pernambucano já é uma
história muito bem contada para o leitor. Você
conta toda a
trajetória do Major Theophanes e de seus comandados, e me
sinto feliz por você terminar o seu livro com uma nota do
nosso querido e saudoso Pharol de Petrolina. Morei
e me casei em Petrolina, onde
vivi 34 anos de 1941 a 1970. Posso
falar quase de viso das
recordações de amizade que o coronel Theophanes
deixou em Petrolina, especialmente com o meu sogro Felipe Fialho. Se
dependesse de mim, eu diria que o
seu livro é didático. Como tal deveria ser
introduzido nos colégios para os jovens estudantes
conhecerem o muito de história. Você
é
privilegiado e tem o dom de um historiador inato com um linguajar ao
alcance do leitor assim como desse velho semi-analfabeto que aqui
está escrevendo. Parabenizo
à
você e a quantos tiverem a felicidade de ler essas 470
páginas do seu livro. Sou
um jovem de 88 anos com o
espírito de 60. Não sei bem se estou fazendo um
comentário a altura do seu livro... Vamos
falar um pouco do cabo
Aureliano Neto. No dia 8 de Dezembro de 1930, Lampião
atravessou o rio São Francisco, ali na volta do rio, e,
não podendo atravessar o Pajeú, na fazenda Barra,
seguiu até a fazenda Poço Grande. Ali soube que
Itacuruba estava com muitos homens armados. Com isto,
Lampião resolveu não enfrentar. A finalidade de
Lampião vir a Itacuruba era matar o meu primo Arthur Flor e
o sargento João Gomes. Da
fazenda Poço Grande
Lampião foi embora, e chegando na fazenda
Sabiucá, de propriedade do senhor Macário Gomes
encontrou o cabo Aureliano Neto, que sempre usava uma capanga.
Lampião ao reconhecê-lo como primo do coronel
Manoel Neto, foi logo sentenciando-o de morte. Depois de amarrado com
uma corda em uma forquilha, foi sangrado e esquartejado. O
cabo Lero era nosso conhecido
porque conviveu em nossa Itacuruba. OBS:
A foto do cabo Lero que tem em
seu livro é da família Nogueira. Abraços, Data: 30/09/2003 - RELATO SOBRE O CEL. THEOPHANES EM PETROLINA. Foi
uma época de muita
paz e ordem na cidade. Era
um oficial comunicativo e sabia
lidar com a sociedade, só procurando fazer amigos. Tinha
por hábito vir todas
as noites para a casa do Sr. Felipe Fialho dos Reis (comerciante),
à Av. Souza Filho, e sentados à
calçada, ali ficava contando as histórias de
Lampião, especialmente dos seus combates com o bando. Entre
as pessoas das suas
relações, estavam, Cel. Clementino Coelho, Cel.
Alcides Padilha, Raimundo Santana, José Barracão,
João Ferreira Gomes (Joãozinho do "Farol"),
jornalista Cid Carvalho, em fim tornou-se um amigo da cidade. Estes
fatos foram contados por minha
esposa Guiomar Fialho Cantarelli (filha do Sr. Felipe), que apesar de
jovem ouvia atentamente as histórias. FRANCISCO
DAS CHAGAS MARIANO (Fortaleza - CE) Meu
caro GERALDO FERRAZ: Recebi
e agradeço o livro.
O enfoque da matéria tratada é bem diferente das
obras que trataram do assunto. Parabéns pelo oportuno
lançamento que preenche uma lacuna na literatura sobre o
cangaço nordestino, em especial, pela fidelidade das fontes
pesquisadas e da agradável narrativa do autor. Aqui
em Fortaleza, reside uma pessoa
que foi ou melhor que é "afilhada" do Antônio
Silvino e que declina muitos versos sobre esse famoso cangaceiro,
citado na sua obra. Querendo, posso lhe mandar o seu telefone (dele)
para que vocês conversem sobre àquele destemido
cangaceiro. A
firma local ABA FILME, na qual
trabalhou o Árabe BENJAMIN ABRAHÃO vai
lançar uma preciosa coleção de fotos
de Lampeão e seu bando. Conheci essa
coleção. É espetacular pela nitidez e
pela postura dos fotografados. São quase 60 fotos em
perfeito estado de conservação e bem grandes. Amigo
Ferraz, sempre tive vontade de
fazer uma viagem por onde Lampeão passou e guerreou. Talvez
que um bom roteiro fosse de Mossoró até Angicos,
fotografando-se os locais. Será
que essa viagem
não interessaria também ao amigo? Aguardo
notícias. Seguem
umas matérias
publicadas nos Jornais daqui sobre o assunto de nosso particular
interesse. Amanhã
estarei seguindo
para o Rio Grande do Sul, Uruguai e Buenos Aires e só
retornarei a esta cidade no próximo mês de abril. Com um forte abraço do, CÂMARA
MUNICIPAL DE FLORESTA - Casa Benício Ferraz Senhor
Presidente; INDICAMOS
à Mesa,
após ouvido o Plenário e obedecidas as normas
legais e regimentais, seja formulado um APELO ao
Excelentíssimo Sr. Prefeito, Dr. SERGIO REGIS LEAL JARDIM,
no sentido de que seja convidado o Sr. GERALDO FERRAZ DE SÁ
TORRES FILHO, através do Departamento de Cultura da
Secretaria de Educação, Cultura e desportos do
Município, para que venha fazer, em nossa cidade, o
lançamento do seu livro, em dois volumes, PERNAMBUCO NO
TEMPO DO CANGAÇO - Theofanes Ferraz Torres, Um Bravo Militar. Da decisão desta Casa, dê-se conhecimento ao escritor convidado - Sr. Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho, aos Florestanos Leonardo Ferraz Gominho, José Arlindo Gomes de Sá, Hildo Leal da Rosa, Dr. Gentil Porto, a GERE-Floresta, a Secretaria de Educação, Cultura e Desportos do Município, ao Educandário Pequeno Aprendiz, ao Colégio Diocesano, as Escolas da rede Pública de Ensino Estadual e Municipal e ao Dr. Quirino de Souza Neto. JUSTIFICATIVA O
Cel. Teófanes Ferraz
Torres, orgulho dos florestanos, expoente da briosa Polícia
Militar de Pernambuco no combate ao banditismo no sertão
Pernambucano, em especial ao grupo de Lampião,
após mais de 15 (quinze) anos de pesquisa sobre a sua vida,
diligente trabalho realizado pelo seu neto Geraldo Ferraz de
Sá Torres Filho, tem a sua biografia publicada. É
mais uma fonte de
pesquisa sobre a atuação da Força
Pública do Estado no combate a violência no
sertão, notadamente sobre a atuação do
3º Batalhão, sediado em Floresta, cujo comando de
toda a operação coube ao ilustre florestano. Traz
detalhes da vida, a trajetória militar, bem como, uma
genealogia com cerca de 350 descendentes dos pais do tenente-coronel
Theófanes Ferraz Torres. Registra,
ainda, fatos
políticos importantes ocorridos na época, como a
passagem da coluna de revoltosos em Pernambuco, o crescimento das
atividades dos cangaceiros no Sertão Nordestino, o
rompimento político na Paraíba entre o coronel
José Pereira e o governador João Pessoa, quando
aquele declara a cidade de Princesa Independente do Estado, dentre
outros. Dado
o prestígio de que
desfrutava o Cel. Teófanes Torres, as
implicações políticas,
econômicas e sociais daquele momento conturbado de nossa
história, os seus relacionamentos, a circunstancial
situação de ter sido comandante de todas as
polícias envolvidas no combate ao banditismo, a
publicação de sua biografia, nos trará
grandes revelações, nova
interpretação para atos e acontecimentos vividos
naquele período. Como
temos prestigiado o
lançamento de tantos livros sobre a vida florestana ou
não, sobre pessoas ou coisas a nós relacionadas,
convém que a comunidade florestana seja prestigiada com o
lançamento do Livro acima referido, destacando a
trajetória do Cel. Teófanes Torres, em nosso
"espaço cultural", ao mesmo tempo que prestigia e aplaude a
iniciativa do neto do biografado, em publicar o resultado de suas
pesquisas e vir lançar o seu livro na terra dos seus
antepassados, na nossa querida Floresta "dos Tamarindos". Contamos
com a
aprovação dos nobres colegas para a presente
indicação. Sala das Reuniões, 20 de maio de 2003. JOÃO
BATISTA DE OLIVEIRA - O Chefe (*) MARTELO AGALOPADO (10 versos em 7 estrofes) 1 SERTANEJO,
QUANDO VÊ UMA
OSSADA 2 A
PALAVRA, CANGACEIRO SE DERIVA 3 OFICIAIS
DA POLÍCIA, QUE
ENFRENTAM 4 LI
O LIVRO E ACHEI INTERESSANTE 5 "PERNAMBUCO
NO TEMPO DO
CANGAÇO" 6 O
PRIMEIRO, QUE THEOPHANES VENCEU 7 GERALDO
TORRES, NÃO
SÓ PESQUISADOR Aos leitores que apreciam ler histórias verdadeiras: recomendação. Li
com atenção
e amor, as páginas contidas nos dois volumes de Pernambuco
no tempo do Cangaço. Theophanes Ferraz Torres, um bravo
militar - 1894/1933, sinceramente e cuidadosamente, escrito por Geraldo
Ferraz de Sá Torres Filho, resultado de 14 anos de uma
pesquisa que valeu muito porque é na verdade, uma
história limpa, uma fonte onde todos nós iremos
beber da água que nos enche de conhecimentos e, porque
não dizer de orgulho, por termos um pernambucano,
"sertanejo" portador de tantos conhecimentos intelectuais, capaz de
descrever com tanta legalidade páginas que servem de
estímulo para os integrantes da Polícia Militar
de nosso Estado, quando cita nomes de oficiais, cabos e soldados,
inclusive o seu querido avô Theophanes Ferraz, que, com tanto
destemor soube elevar bem alto o nome de sua
corporação. Theophanes
deixou belas
páginas escritas nas terras secas do nosso
bravíssimo Sertão, quando perseguiu e prendeu
Antônio Silvino, cangaceiro de fama e, Virgulino Ferreira - O
Lampião, que ele desejaria prendê-lo e
apresentá-lo a Justiça, mas, não
pôde consumar o seu desejo, porque Deus do céu
chamou-o mais cedo, em 1933, para a Mansão Celestial e
Lampião, só viria a ser liquidado em 28 de julho
de 1938, justamente cinco anos depois, mas, essa glória, ao
invés do Tenente João Bezerra, fôra
rnuito desejada pelo Major Theophanes Ferraz Torres. Portanto, este brilhante livro, escrito em dois volumes, deve figurar em todas as bibliotecas de pessoas que apreciam enriquecerem-se de conhecimentos e assim, amar mais o nosso torrão, que tem história decente e limpa para contar. (*) JOÃO BATISTA DE OLIVEIRA (PESQUEIRENSE DE NASCIMENTO E BOMCONSELHENSE DE CORAÇÃO) É INVESTIGADOR DE POLÍCIA SP 9 - APOSENTADO. RESIDÊNCIA: RUA BARROS SOBRINHO, 396 - AREIAS, RECIFE - PERNAMBUCO. FONE: 8823-6368 DENIVALDO
BATISTA DOS SANTOS (Presidente da ASSINPE-PM/BM) Os
feitos louváveis,
praticados por policiais militares, em Pernambuco, são
muitos, embora poucos, ou quase nenhum deles, mereçam
destaque na sociedade, ao contrário do que acontece com os
fatos negativos praticados por uma minoria, efusivamente divulgados
pelos meios de comunicação. É
cada vez maior o
número de pessoas fora do contexto policial militar que se
arvoram da condição de "experts" em assuntos de
segurança pública e são, por isso,
solicitadas para proferirem palestras, promoverem seminários
e simpósios, ao passo que profissionais, por vezes, com mais
de 30 anos de serviços, diuturnamente, prestados nas ruas e
nos quartéis e que freqüentaram diversos cursos de
formação, de aperfeiçoarnento,
estágios e que participaram das mais diversas
operações policiais, não
são, sequer, consultados. Foi
visando reverter essa
situação que criamos o Núcleo Cultural
da Associação dos Policiais e Bombeiros Inativos
e Pensionistas de Pernambuco - ASSINPE-PM/BM. Há
cerca de cinco meses,
fomos procurados por dois membros desse núcleo, os
Coronéis Moura e Bezerra que solicitaram o apoio para a
publicação do II volume do livro "Pernambuco no
Tempo do Cangaço- Teophanes Ferraz Torres, um Bravo Militar,
de autoria do seu neto, Geraldo Ferraz, que também
é do Núcleo Cultural; aceitei, de imediato,
porque trata-se e um trabalho que atribui o devido valor aos bravos
soldados e suas epopéias, no sertão, no agreste e
na mata nordestina, que muitas vezes deram suas vidas por uma sociedade
que, justamente, por falta de informações desses
feitos não lhes atribui os devidos valores e que, muitas
vezes, chegam a inverter os conceitos, tentando transformar
herói em bandido e bandido em herói. Só
quem vivenciou o
cangaço, corno poucos que aqui se encontram, é
que poderão avaliar os feitos de um Theophanes Ferraz
Torres, de um David Jurubeba, de um Optato Gueiros, de um Manoel Neto,
de Manoel Flor, de um João Lira, de um João
Nunes, entre outros, tão valiosos e tão
esquecidos. Nesta
noite festiva, a ASSINPE-PM/BM,
ombreada a outras entidades e instituições como a
PMPE, sob o Comando Geral do Cel PM Weldon e o Centro de Estudos de
História Municipal, da FIDEM, Presidida pela Dra
Amélia Reinaldo, vem parabenizar o Escritor Geraldo Ferraz,
por colocar na bibliografia brasileira essas páginas de
seriedade histórica que destacam, com justiça, a
bravura e 0 heroísmo do policial militar pernambucano. Muito
Obrigado! EURÍPES
TAVARES FILHO (Advogado) Li,
com prazer e
atenção os dois volumes de seu
memorável trabalho "PERNAMBUCO NO TEMPO DO
CANGAÇO" TEOPHANES FERRAZ TORRES - UM BRAVO MILITAR. Quem
esperar uma obra romanceada
não vai, com certeza, encontrá-la nos dois
volumes. Afinal você discorre sobre o "BRAVO MILITAR",
não sobre a vida particular do seu querido ascendente. Entretanto
deve ser louvada a
precisão da pesquisa efetuada nos arquivos da
Polícia Militar de Pernambuco, resgatando a
memória de um de seus mais ilustres membros, que morreu no
ostracismo, vítima de seu comportamento legalista e
apolítico que era. Peço
licença ao
amigo para fazer um paralelo com a quartelada de 1964. Estudante de
direito à época, era, como ainda sou curioso
pelos fatos históricos ocorridos no nosso Estado.
Formalizado um processo que envolvia mais de quarenta réus,
encabeçado pelo ex-Governador Miguel Arraes, o processo foi
distribuído ao saudoso, valente e austero - já
falecido - Desembargador Agamenon Duarte de Lima, o qual assim
despachou. "Preserva-se
o decoro da
justiça repelindo-se "in limine" denúncia oriunda
de processo pré-fabricado em quartel". Na
peça referida, o nobre
magistrado de saudosa memória, faz uma
correlação semelhante ao acontecido com o Major
Theophanes. Assim
se expressa o referido Juiz: Não
se pode conceber que o
Dr. EDGAR HOMEM DE SIQUEIRA, velho juiz de Olinda, tenha sido preso e
jogado às enxovias da Casa de
Detenção, ao lado de ladrão que ele
mesmo havia condenado, como se fosse comum juiz e condenado partilharem
da mesma cela. "Mutatis
mutandis", foi o que ocorreu
com o homenageado, o seu digno Ascendente. Jogado às
enxovias da casa de detenção por ter sido
legalista e ter defendido com o mesmo brio o ideal que professava e por
ter sido leal ao governo que servia, apesar da covardia
histórica do Dr. Estácio Coimbra, Governador de
então. Sobre
a obra, afirmo que se trata de
um trabalho de pesquisa ímpar e invulgar. As fontes
são literalmente referidas, não permitindo ao
leitor que as obnubile. A Correspondência havida pelo
telégrafo entre Teophanes e Eurico de Souza Leão
é simplesmente notável. Lembro, com
precisão, de uma delas. Quando Teophanes reclama ao Chefe de
Polícia de que o Juiz Valadares estava obstando o seu
trabalho recebe a resposta, mais ou menos - estou escrevendo de
memória -: "Não estou
preocupado com
Lampeão de toga, nem com as suas frioleiras, quero sabe do
Lampeão de verdade, onde ele anda". Repito que a sua obra
é impar, porque, praticamente, esgota o tema
cangaço em Pernambuco. Das
múltiplas
observações que me permiti fazer da leitura do
Livro, posso destacar que enquanto a Polícia Pernambucana
sob o Comando do Homenageado, agindo com extremo rigor, conseguiu
expulsar o bandido do Estado de Pernambuco com táticas
corretas, principalmente prendendo os "coiteiros" os quais eram a
peça chave à sobrevivência dos
bandidos. Os Estados vizinhos não fizeram o mesmo. Apesar
do acordo entre as chefias de
permitir que uma volante pudesse transpor as fronteiras de um Estado
para outro, quando em perseguição aos bandidos,
não foi unificado o comando, de forma que cada VOLANTE
policial agia por conta própria sem qualquer contacto com os
demais. Tomei conhecimento, lendo a sua obra, que a Família
Pereira da Paraíba e de Pernambuco dava coito aos
Cangaceiros, bem corno a família Malta em Alagoas. O
Cangaceiro, de tão
acossado em Pernambuco, transpôs o Rio São
Francisco e foi se homiziar na Bahia onde não foi
tão perseguido porque o Governo Baiano não fazia
parte do convenio com os demais estados, tendo inclusive impedido que
as forças volantes de Pernambuco adentrassem em seu
território. É celebre a frase de Virgulino
Ferreira do chegar na Bahia. "DE
PERNAMBUCO EM TROUXE FOME,
DINHEIRO E NUDEZ". Conclui que estaria de férias na Bahia. A
obra que li com muito prazer
é puramente didática e se presta a ensinar os
pesquisadores e a quem pretenda enveredar pelo estudo do
cangaço em Pernambuco na década de 20/30. Para
concluir: Lampeão foi
um bandido vulgar que agia por maus instintos e tinha uma moral
própria, rigorosamente condenável. Não
se pode contabilizar quantos homicídios, estupros, assaltos,
melhor dizendo, quantos crimes praticou. Evidentemente não
podemos esquecer que ele foi fruto do obscurantismo da
época, do coronelismo e do mandonismo e da falta de
comunicações. Não podemos aceitar que
haja pessoas pleiteando erigir em Serra Talhada - Vila Bela,
estátua em sua homenagem, nem que faça parte da
música "NORDESTE INDEPENDENTE", CANTADA POR Elba ramalho,
onde refere textualmente "LAMPEÃO O HERÓI
INESQUECIDO". Não sei a que espécie de
herói a musica se refere, a não ser o anti
herói. Quero
lhe transmitir os mais sinceros
parabéns, achando poucas as homenagens que recebeu, pois o
seu trabalho é deveras grandioso. MARIA
JOSÉ DE HOLANDA TORRES (Mãe do Autor) Querido filho Geraldo: Novamente,
a
emoção e o orgulho me invadiram ao
vê-lo sendo condecorado com a medalha "Honra ao
Mérito" pelo o muito que você fez. Justo e digno
esse merecimento e reconhecimento. Parabéns filho mais uma
vez estou colhendo os frutos do pouco que fiz, entretanto prevejo um
futuro promissor. Pode
calcular como me senti no
momento em que você recebeu a medalha?... não,
não pode!, a alegria foi tamanha que não pude
conter as lágrimas, elas vieram livremente e deixei-as
correr assim mesmo, não as impedi; entretanto não
esqueci de agradecer a Deus o prazer de participar ao vivo dessa
solenidade linda. Continue
sendo o mesmo filho que tem
sido até agora: - carinhoso, amigo, sincero, honesto,
correto e, particularmente, muito família como tem tido
demonstrado. Você
sabe que a vida
continua e com ela vamos em frente. Só pela esposa e as
belas filhas que tem (minhas netas) valem a pena viver para elas e por
essa velha mãe coruja que muito e muito o ama. Com
todo o carinho, Zequinha SERGIO
A. S. DANTAS (Caicó-RN) Prezado
Geraldo,
saudações: Com
imensa alegria recebi, hoje
à tarde, os livros de sua autoria. Parabéns
pelo bom gosto na
confecção e acabamento e, ainda, o endosso do
Professor Frederico Pernambucano. Apesar
de ainda não
conhecer o seu conteúdo, já posso imaginar, pelo
rápido folhear que há pouco fiz, que muitos e
preciosos serão os subsídios para o nosso futuro
-ainda que distante - modesto trabalho. Grato
pela
atenção em ter nos enviado a obra de sua autoria. Se
tudo correr bem e Deus me der
vida, um dia terei o prazer de enviar algo de nossa autoria. Aceite
o nosso fraternal
abraço e disponha desse matuto potiguar. Do amigo ... ÂNGELO
PACÍFICO BARROS DE CARVALHO (Professor da Escola Municipal
Major João Novaes - Floresta e Especialista em
História do Nordeste) Saudação a Geraldo Ferraz Meus
amigos, as coisas acontecem sem
que muitas vezes possamos prever os resultados finais. Depois de
algumas procuras por alguém que tivesse a
competência e o traquejo necessário para
tão ilustre saudação, veio-me o
convite para este feito e, aquiescendo, eis-rne aqui em lugar
tão nobre, na obrigação,
satisfatória sim, de executar tão importante ato,
para o qual tive o apoio de Neide Ferraz e de Gracinha Feitosa, ambas
afirmando que eu dada conta do recado. Quanta responsabilidade! Falar
para, ou com, ou sobre ti
Geraldo Ferraz, tornou-se algo que gera expectativas. O teu vulto
cresceu demais, o teu bom conceito já correu estradas e tuas
referências tornaram-se cosmopolitas. Vi a carta de Manoel
Anibal Cantarelli, que mora no Rio de Janeiro, sobre a obra que hoje
temos o prazer de ver lançada em nossa cidade. E
não é que a sabedoria não tem idade
mesmo? Do alto da juventude de seus 88 anos, que ele oficializa como
mais parecida com 60, vemos um homem em pleno domínio de sua
memória, fazendo citações de partes de
tua obra, inclusive sugerindo pequena interferência, pelo que
entendi recorrendo apenas à memória prodigiosa.
Mas o que achei mais interessante foi a argúcia
contemporânea quando sugere que tua obra deveria, sim, ser
incluída nas escolas como livro didático, haja
visto sua importância para pesquisas e o conhecimento dos
nossos jovens sobre a verdadeira história do
cangaço na região sertaneja de Pernambuco. Referências
positivas
são o que não te faltam. Muito me impressione
quando vi, na coluna Opinião do Jornal do Commercio, a forma
como és tratado no artigo do saudoso Geraldo
Tenório Aoun, e os comentários que ele faz acerca
da respeitabilidade e importância da tua obra, inclusive
quando diz: "O livro é quase urna enciclopédia e
registra, praticamente, tudo que ocorreu de importante entre 1894. ano
em que Theofanes Torres nasceu, até sua morte, em 1933.
Durante a Revolução de 1930, foi perseguido e
preso, por ter defendido o poder constituído. A
memória do tenente-coronel Theofanes Torres será,
sempre, uma legenda de competência,
determinação e coragem na história da
Polícia Militar de Pernambuco. "Entre outras coisas que
podem ser lidas neste texto, intitulado de "Uma epopéia
sertaneja", chamou a atenção daquele saudoso
escritor durante a leitura da tua obra, e é interessante
levantar, que o trajeto do teu avô mereceu o respeito de
outros líderes sertanejos a propósito do envio de
um simples telegrama do Cel. Veremundo Soares, de Salgueiro, em que
exige a anulação de uma
acusação de desonestidade e garante a
honorabilidade do amigo pessoal, acusação essa
que deveria ser anulada pelo chefe de Policia. Sem
querer me alongar demais neste
momento de homenagem, mas não podendo deixar de citar
também outro registro importante, pois este foi mais um
argumento que encontrei para despertar a curiosidade das pessoas que
aqui se encontram, acho valoroso que a tua obra disponha ao publico um
vasto material, inclusive bastante interessante, como háitos
que eram comuns para aquela época nas cidades grandes e
pequenas, hoje restritos as tradições das cidades
pequenas. Mostra, o nobre escritor, uma oraçã de
proteção que foi encontrada nos pertences de teu
avo, juntamente com um crucifixo e um relicário em um
saquinho de pano que havia sido mantido ligado ao corpo do
tenente-coronel ate o dia da sua morte. Isso era tão comum
à época, que Lampião também
mantinha um texto religioso, quase igual no seu conteúdo,
guardado todo tempo junto de Si. Merece também especial
atenção, sem fazer apologia ao
cangaço, que não te incomodas em mostrar fotos,
significativas por demais, até mesmo para se fazer um estudo
sociológico aprofundado daquelas atitudes, de cangaceiros
vestidos formalmente para a harmoniosa e pacífica vida em
sociedade e do tenente-coronel Theofanes Torres vestido como e portando
objetos e armas de cangaceiros, numa inversão interessante
de papéis e valores. Quando
vemos a tua obra, caro
Geraldo, percebemos e entendemos claramente o teu objetivo: ela
é uma maneira de ver registrado em livro uma importante
página da nossa história e, posteriormente, de
obter um reconhecimento dos aspectos importantes e tenazmente
combativos da Força Pública do nosso Estado.
Convém lembrar que tivemos, até bem pouco tempo,
tentativas contundentes de tornar o cangaço um marco divisor
de Importância maior, como se as ações
e atitudes dos cangaceiros fossem mais admiráveis e
respeitáveis que os aspectos e a maneira como agiam os
nossos bravos homens de combate. Nesta obra mantemos um contato
aprofundado e mais formidável com a outra face da
história do cangaço numa linguagem
acessível e de fácil compreensão,
registrado através de documentos dos fatos relevantes que
refletem a saga de homens que realmente buscavam o bem estar de seus
contemporâneos e das novas gerações,
sem saber, muitas vezes, que os reflexos de suas atitudes
não poderiam ser vistos, nem poderiam ser colhidos os frutos
em curto espaço de tempo. Temos
o prazer de receber a tua
visita para o lançamento da obra em que, vou tomar a
liberdade de usar tuas palavras, estás "contando a
história de Floresta e guardando as suas
tradições de louvar seus filhos ilustres", sem
esquecer de frisar que, para tanto, tivemos a
orientação do Prefeito Sérgio Jardim
no sentido de fazer todo possível para que esse
lançamento transcorresse na mais perfeita ordem e
satisfação. Não posso deixar de
mencionar, tambérn, o incentivo dado pelo Sr. Afonso Augusto
Ferraz, que manteve os contatos iniciais entre o ilustre amigo e a
nossa Prefeitura. Hoje
é um dia especial,
pois a tua florestaneidade tornou-se mais forte, mais evidente, mais
aparente. É desejo desta platéia, posso afirmar,
que o amIgo e sua família tomem-se habitués do
nosso convívio e que os caminhos que percorreres daqui pra
frente sejam repletos de muito sucesso e paz. Saudações
florestanas, sucessos pajeuzeiros. SEVERINO
DE CARVALHO CANTARELLI (Sertanejo de Pernambuco) São Paulo, 18 de Julho de 2003. Meu caro Geraldo, um abraço. Quero
lhe agradecer a remessa das
páginas do 1º volume de seu livro PERNAMBUCO NO
TEMPO DO GANGAÇO. Como imaginei, era nelas que continha o
momento mais importante da prisão de Antonio Silvino. Como
lhe falei, no telefonema,
você está de parabéns com tal
publicação. Relato perfeito, não
somente do período negro (do cangaço) que passou
nosso Nordeste, em particular o nosso Sertão, corno
também da história do Brasil, abrangendo
episódios que às vezes ficaram esquecidos com o
tempo. Realmente muito bom o seu livro, coroando com êxito
seu sacrifício em vasculhar quantos relatos antigos, em
arquivos quase ocultos. A
fidelidade dos fatos é
impressionante com urna cronologia perfeita. Este livro deveria fazer
parte das bibliotecas das Escolas para que os nossos jovens, de hoje,
soubessem o que realmente fora àquele terrível
tempo, e, não virem com a bobagem que surgiu em Serra
Talhada, que através de um plebiscito erguer uma
estátua à memória de um dos mais
famigerados bandidos de todos os tempos. Querer transformar
Lampião em herói, só cabe em
cabeças sem "miolos". Ainda bem que a iniciativa foi
frustrada. Em
relação ao
cabra de Lampião de nome Chico Miguel alcunhado de
Pássaro Preto, corno já lhe falei, eu o conheci
do final de 40 para 50, na fazenda de minha irmã mais velha,
de nome Josefa, casada com Joaquim Valgueiro, no Campo Alegre na
ribeira do riacho de São Gonçalo,
município de Floresta e a poucos quilômetros de
Nazaré. A
história de Chico Miguel
é a seguinte: Era
morador de Francisco Valgueiro,
filho do Major Antonio Valgueiro (pai, também, do Coronel
Elias Valgueiro, Capitão Nestor Valgueiro e outros),
proprietário da fazenda Retiro desmembrada da fazenda
Juá, do seu pai. Um dos empregados da fazenda "boliu" com
uma "empregada" do patrão. Chico Valgueiro mandou acertar as
contas com aquele companheiro de trabalho. Chico Miguel o encontrou
embaixo de um umbuzeiro e lhe falou,"levanta que eu não
quero matar um homem sentado!" Pensando tratar-se de uma brincadeira,
pois eram companheiros, levantou-se, abriu o peito e disse apontando
para o coração - atire aqui! E assim o coitado
recebeu uma bala de rifle 44 no coração. Enquanto
Chico Valgueiro era vivo,
ele estava protegido, mas com a morte do patrã, os parentes
do morto queriam vingá-lo, foi quando o Chico Miguel
procurou o bando de Lampião, recebendo o nome de
Pássaro Preto. O processo correu na Comarca de Floresta. Certa
feita quando Lampião
estava por perto daquela região Chico Miguel pediu
licença a seu chefe e foi tomar a
bênção a seu padrinho
Capitão Aureliano Lopes dos Santos Barros, da fazenda Campo
Alegre, genro do Major Totonho Valgueiro. O Cap. Aureliano era pai do
meu cunhado Joaquim Valgueiro esposo de minha irmã Josefa.
Lá chegando seu padrinho o aconselhou a se entregar
à justiça, quando ele respondeu, - se meu
padrinho me garantir que não vou ser morto, o senhor pode me
levar ao Delegado. Assim o Cap. Aureliano pessoalmente o levou ao
Delegado de Floresta. Julgado
e condenado foi recolhido
para a Ilha de Fernando de Noronha. Durante a 2ª Guerra
Mundial, Fernando de Noronha se tornou Base americana. Os presos foram
removidos para a Ilha de Itamaracá, mas alguns ficaram em
Fernando de Noronha para trabalharem com os soldados. Foi o caso de
Chico Miguel que já cuidava das vacas leiteiras. Ficou para
cuidar do gado. Findo
a guerra, vejo a anistia e
Chico Miguel foi anistiado vindo para a fazenda de seu padrinho e foi
trabalhar com o meu cunhado. Tive
contato várias vezes
com o Chico Miguel. Era um preto muito bom, calmo e atencioso, trazendo
de Fernando de Noronha uma mulher branca com um garotinho branco
dizendo ser seu filho. Tinha um jumento preto que pôs o nome
de Pássaro Preto. Nunca mais o vi, nem sei quando morreu,
mas se seu filho for vivo, deverá estar com mais ou menos 50
ou 60 anos. Essa
história é
para sua ilustração. Muitas outras sei por meus
pais e os mais velhos que me contaram, dos abusos dos Cangaceiros, dos
Revoltosos e de algumas Volantes de Comandantes despreparados. Poderia
escrevê-las, mas não tenho tempo e tenho
preguiça (de escrever). Gosto sim, e, muito daquilo que os
outros escrevem. Gosto de ler, sobretudo o que se fala do nosso
Nordeste. Apesar de viver aqui há quase 45 anos jamais
esqueci do meu torrão. É por isso que me
interesso muito daquilo que há e se fala daí. Um grande abraço extensivo aos seus. Se por acaso vier a São Paulo estarei a sua disposição para um bom bate papo. MOACIR
ASSUNÇÃO (Jornalista do "Estado de São
Paulo") Meu
caro Geraldo, grande
abraço. Pode ter certeza que o seu livro está
sendo de grande valia para o meu trabalho, no sentido de aclarar
dúvidas e contas um pouco melhor a história do
seu avô, um dos mais marcantes inimigos de Lampião
e Antônio Silvino. O livro tem o condão de
contextualizar a época em que os fatos ocorreram. Com relação ao meu livro, sou uma pessoa muito crítica profissionalmente, mas ele está ficando interessante, já estou na página 88 (terá entre 120 e 150) espero concluí-lo até o fim de setembro ou no máximo outubro. E, em seguida, apresento à editora e espero que saia no início de 2004. Grande abraço e manteremos contato, que queria perguntar um pouco também sobre sua família e a história da "guerra" entre os Ferraz e os Novais. Grande Abraço, ... VIDAL
DA SILVEIRA BARROS - Coronel da PMRJ (*) Estimado Professor Geraldo Ferraz. Nos
diversos livros que li sobre o
ciclo do cangaço, a grande epopéia das PM
nordestinas, conhecia o feito do então Tenente PM
Teófanes Ferraz que combateu e prendeu o facínora
Antonio Silvino. As vezes perguntava a mim mesmo: como teria sido a
restante carreira do herói da PM de Pernambuco? Faz
algum tempo, encontrei em uma
livraria, no Centro da Cidade, o primeiro volume do livro do Professor
e Historiador que muito dizia da vida e obra bravo militar. Mas
não era o suficiente. Faltava conhecer o outro volume. Para
isso contei com a boa vontade de uma funcionária da
Secretaria Municipal de Floresta, cujo nome não fixei, que
enviou-me os dois volumes. Após
a leitura doei os
dois volumes à Biblioteca da Academia de Polícia
Militar - D João VI, para que o exemplo do valoroso e bravo
militar inspire as novas gerações de jovens
cadetes. Resta
dizer que é um livro
de amor e orgulho natural. Mas a voz do autor se ergue para relatar,
sem imagens laudatória, em um relato puro e simples do
magnífico desempenho militar do seu ilustre antepassado. Por tanto, presto minhas homenagens ao Professor Geraldo Ferraz pelo importante resgate da biografia do herói da Polícia Militar de Pernambuco e, por via de conseqüência, de todas as Policias Militares do Brasil.
ANTONIO
SANTOS Meu
caro Geraldo Ferraz Recebi
os livros, já li o
primeiro volume parabéns pelo seu trabalho que resgata a
historia do bravo militar seu avô de quem você e
todos os seus familiares devem ter muito orgulho. Lá
em Mirador eu emprestei
os livros para outras pessoas ai vem aquela pergunta mais porque
historia de Pernambuco, minha resposta é que Pernambuco
é Brasil. Abraço ... ALFREDO
BONESSI Sr Geraldo Saúde Desculpe
a demora na resposta.
Agradeço o contato e parabenizo pela ilustre
família Ferraz. Esse nome no sertão representa
muito para nós. Ele é símbolo de
força, de luta, de determinação, de
coragem, de honestidade, de pessoas valentes. É motivo de
orgulho para todos nós. Temos certeza que é
motivo de honra e orgulho pertencer a esse nome Ferraz. Temos
um grupo de estudos do
Cangaço aqui em Fortaleza e nessa busca por fatos novos
deparei-me na internet com a oferta desse prestimoso livro e mais
contente fiquei em receber o e-mail de tão ilustre pessoa. Meus
estudos sobre o tema
têm pouco mais de dois anos e já consegui reunir
algumas obras. Após isso pretendo ir "in loco" para o
sertão completar todas as informações
com fotos e filmagens. O
tema Cangaço
é fascinante e marcou época em nossa
história. Na caatinga ensolarada o Cangaço
certificou a sangue, punhal e bala a coragem singular do sertanejo,
principal peça nesse jogo de vida e morte. Temos respeito e
admiração por todas as pessoas que tomaram parte
na epopéia sertaneja, e o sertão, fortalecido
pelo sangue derramado dos combatentes, ficou feliz porque seus filhos
não negaram a sua origem. Confirmo
o meu endereço
citado pelo amigo e solicito, por gentileza, me enviar o nome do banco,
conta/corrente, agencia bancaria e titular da conta para que seja
efetuado o depósito. Recomendações
a
digníssima família. Por aqui estamos as ordens. JOSÉ
MÁRIO NOBRE Prezado
Amigo Geraldo Antes
de tudo quero agradecer-lhe
pela rapidez de resposta ao meu Email e mesmo sem ter lido,
cumprimentá-lo pela sua importante
contribuição à cultura brasileira,
através de obra tão completa como me parece ser
aquela que você produziu.Parabens mais uma vez! Quanto
a mim, sou
português, residente há quase quarenta anos no
Brasil. Todavia, como conheço o nosso país,
melhor que a maioria dos brasileiros, inclusive, todo o
sertão de Pernambuco ao Maranhão - epoca em que
residi em Fortaleza, como gerente regional de um laboratório
de produtos farmacêuticos - passei a interessar-me por tudo o
que diz respeito ao nordeste. Por essa razão li muito
sôbre essa extraordinária região e seu
destemido povo, sofrido mas sempre forte e orgulhoso. Li, como
não podia deixar de ser, os SERTÕES de E. da
Cunha, a GUERRA DO FIM DO MUNDO, de M.Vargas Llosa (que aborda a
campanha militar de Canudos) SEARA VERMELHA de J.Amado e muitos outros.
Não
obstante, continuo
interessado em conhecer melhor a verdadeira história do
Cangaço, pois existe muita controvérsia a
respeito. Não só por ser fascinante a forma quase
impossível de vida, dessa gente, em meio à
caatinga, como também a estratégia e
tática militar, que nessa época, pelas naturais
dificuldades, me parecem muito superiores aquelas que nos dias de hoje
têm sido adotadas pelos guerrilheiros do Vietnã,
Iraque, Afeganistão, Farcs e muitas outras. Assim,
se o seu livro aborda o
Cangaço - como parece pelo título - concordo em
recebê-lo, bastando que o Amigo Geraldo me informe o
número da sua conta corrente, para efetuar o respectivo
pagamento. E se você puder me indicar outras livros com
histórias do gênero, nome do autor e onde poderei
encontrá-los, fico-lhe, desde já, imensamente
agradecido. Atenciosamente REGINALDO
RODRIGUES PEREIRA - Advogado (Natural de Piranhas - AL) Meu Caro Geraldo Ferraz: Quero
aproveitar o momento natalino
para, com muita honestidade externar a você e seu
público, minha opinião a respeito da obra
PERNAMBUCO NO TEMPO DO CANGAÇO - THEOPHANES FERRAZ TORRES UM
BRAVO MILITAR. O
título, por si
só, me deu a impressão de que o neto na qualidade
de escritor e pesquisador, desejava apenas homenagear seu
avô, homem integro, de forte personalidade, porém,
injustiçado. Confesso,
inicialmente, que essa
impressão equivocada me fez adquirir os dois volumes com a
simples intenção de cooperar. Ao
concluir a leitura, verifiquei,
com imensa alegria, que seu trabalho foi elaborado com muito amor e
dedicação e, sobretudo, proporciona ao leitor uma
verdadeira viagern ao mundo do conhecimento e da
informação. Eu,
particularmente, jamais pensei
que PERNAMBUCO NO TEMPO DO CANGAÇO pudesse trazer a
informação de que o maestro Antonio Carlos Gomes
faleceu no Pará, no dia 16 de setembro de 1896, como
também, que Inocêncio Gomes Lima, Irmão
da minha bisavó Custódia Gomes Lima, foi
testemunha do casamento do então tenente Theophanes, seu
avô, conforme consta nas paginas 43 e 143, respectivamente,
do Volume I. Percebi,
também, que
Theophanes Ferraz Torres para se tornar um bravo militar, teve que
desempenhar suas funções com honestidade e muita
seriedade, passando, dessa forma, a possuir uma grande e
invejável folha de serviços. lnfelizmente, nem
sempre esses predicados são vistos com bons olhos, porque o
ciúme e a inveja às vezes cegam e fazem brotar,
nos corações dos maus, aquela sede de
vingança, surgindo, dai o inimigo oculto. Com
o seu avô
não poderia ser diferente. Sua
forma de ser, agir e pensar
incomodava muita gente e esses Incomodados, ou seja, os inimigos
ocultos esperaram o momento certo para a vingança e
tentaram, a todo custo, transformar o herói em bandido. Você,
portanto, na
qualidade de neto e conhecedor da história, mergulhou fundo
nas suas pesquisas e, de forma clara e decidida resgatou a
memória do seu avô, mostrando a todos que por mais
longa que seja a noite, o sol volta sempre a brilhar. Parabéns,
BRAVO
PESQUISADOR. Aceite
um forte abraço do
amigo e admirador. Reginaldo Rodrigues JOSÉ
PAULO FERREIRA MOURA - Mais conhecido por "PAULO MOURA" (Escritor/Poeta
e Pesquisador do Cangaço) Aqui
se faz aqui se paga...
tá vendo? Tudo
que você
está fazendo aqui está colhendo de imediato. Um
trabalho árduo, competente e imparcial como o seu merece
todo o credito e toda honra à que você
está fazendo jus. Deus
te abençoe, amigo
Geraldo. Você é um guerreiro...! Seu avô
lutou com as armas para fazer justiça..., você,
hoje, faz da justiça e das letras sua maior arma,
parabéns, do fã incondicional de sempre, Paulo Moura. HECTOR
HUGO HUEGO (Escritor Argentino) "PERNAMBUCO EN LOS TIEMPOS DEL CANGAÇO" El
gran laberinto, el de la vida, me
trajo a este País desde Argentina y en mi
condición de extranjero, és decir, con las
limitaciones del idioma, desconocimiento de la cultura y costumbres,
pero con un enorme interés, traté de adentrarme,
desde el primer momento, en las meticulosidades y sutilezas del ser y
sentir brasileros. Pocos
de los oriundos de estas
tierras saben del cariño y admiración que los
argentinos les profesan. Acaso hayan decidido quedarse en eso de la
eterna rivalidad de Maradona y Pelé. Pero el hecho del
afecto se dá a partir de la insuperable embajadora que
tuvieron en la música, comenzando con Vila Lobos y siguiendo
hasta nuestros días, sobre todo con la bossa nova, que los
argentinos descubrieron asombrados allá por los
años 60 y adoptaron en forma inmediata, idolatrando a sus
precursores, el caso de João Gilberto, Vinicius, Tom Jobin,
Maria Creusa, Elis Regina y Gal Costa entre tantos otros. La
palabra "Pernambuco", su
armonía y la melodía de su
pronunciación, me retrotraen a los claustros salesianos del
Colegio San José en Buenos Aires, en los que, como pupilo,
transcurrió mi aprendizaje primario, y - para lo que viene
al caso - a Emillo Salgari, de quien aprendí a deleitarme en
las horas de biblioteca con El Corsario Negro, Sandokán, La
Dama de Ventimiglia, la Isla de las Tortugas, Veracruz,
Curação y por supuesto, Pernambuco. Traigo
entonces, en mi memoria, el misterio, la seducción y la
enorme curiosidad por escavar y aprender todo lo posible sobre este
antiguo puerto que supo desvelar las ambiciones de los piratas y
corsarios de siglos atrás. "Pernambuco
en los Tiempos del
Cangaço", por tanto, atrajo mi atención de forma
inmediata y si bien no encontré en sus páginas a
Barbarroja o a los corsarios ingleses, aprendí a conocer
otro tipo de piratería, la de la violencia, el saqueo, el
secuestro, la extorsión y el asesinato a mansalva que
sumieron en la barbarie y en la desolación al interior de
Pernambuco y a otros estados aledaños durante casi medio
siglo. Asimismo me hizo intimar con sus pueblos, aldeas y ciudades que
fueron protagonistas y epicentro de las andanzas de los hermanos
Ferreyra y sus secuaces. Así, hoy me suenan familiares Vila
Bela, San Francisco, Aguas Belas, Triunfo y la valiente y sufrida
Nazareth entre otras. Me adentré' en la inextricable
"caatinga" y en el rocoso suelo de las montañas que
sirvieron de refugio a los malandrines y me asomé con
estupor y asombro a la cobertura y protección que los
inescrupulosos "coroneles" otorgaban a los fascinerosos. Simultáneamente,
acompañé la crónica de este
apasionante capítulo de la historia de Pernambuco y de
Brasil, ubicado en tiempo y forma gracias a la inserción del
autor de las novedades que marcaron época como los primeros
vuelos internacionales o la noticia de la aparición de un
nuevo periódico, o la muerte o asunción de un
nuevo Presidente de la Unión. Leí
por primera vez, en mi
infancia, el nombre de mi abuelo materno escrito en una chapa
indicadora de una calle que lleva su nombre. Imagino entonces, los
desvelos del autor al realizar su pesquisa, el gozo al encontrar los
documentos que ratificaban la leyenda y la satisfacción al
plasmarlos en las páginas de su obra. Dicen
que el único
sufrimiento que el tiempo no puede vencer, es el del amor no declarado.
Imagino entonces - con envidia por cierto - la consumación
de esta obra literaria por parte de Geraldo Ferraz Torres, como una
especie de exorcismo, por no haber podido expresarle personalmente a
Teófanes, su admiración, su reconocimiento, su
amor y su respeto. Escribir y publicar, es un acto de valentía. Lo dice un cobarde que tiene un libro terminado desde hace más de cinco años, careciendo del valor necesario para publicarlo. Vaya entonces mi más sentido respeto, agradecimiento y admiración para el autor de esta magnífica obra, que ha logrado su paz interior y la gloria ante el deber familiar cumplido, el rescate para la historia de Teófanes y el reconocimiento y orgullo de sus pares de la fuerza policial y de sus contemporáneos. HECTOR
HUGO HUEGO (Escritor Argentino) Tradução: Javier Huergo O grande labirinto, o da vida, me trouxe até este Pais da Argentina, e na minha condição de estrangeiro, é dizer, com as limitações do idioma, desconhecimento da cultura e costumes, mas com um enorme interesse, tentei me aprofundar, desde o primeiro momento, nas meticulosidades e sutilezas do ser e sentir braseiros. Poucos dos oriundos destas terras sabem do carinho e admiração que os argentinos lhes professam. Por acaso tenham decidido ficar na eterna rivalidade de Maradona e Pelé. Mas o fato do afeto se dá a partir da insuperável embaixadora que tiveram na música, começando com Vila Lobos e seguindo até nossos dias, sobre tudo com a bossa nova, que os argentinos descobriram assombrados lá pelos anos 60 e adotaram de forma imediata, idolatrando a seus precursores, o caso de João Gilberto, Vinicius, Tom Jobim, Maria Creusa, Elis Regina e Gal Costa, entre tantos outros. A palavra "Pernambuco", sua harmonia e a melodia de sua pronunciação me retornam aos claustros salesianos do Colégio São José em Buenos Aires, nos quais como aluno, transcorreu minha aprendizagem primária, e - para o que vem ao caso - a Emílio Salgari, de quem aprendi a deleitar-me nas horas de biblioteca com O Corsário Negro, Sandokan, A Dama de Vintemilhas, A Ilha das Tortugas, Veracruz, Curaçao e, inevitavelmente, Pernambuco. Trago então, na minha memória, o mistério, a sedução e a enorme curiosidade em escavar e aprender todo o possível sobre este antigo porto que soube desvelar as ambições dos piratas e corsários de séculos atrás. "Pernambuco nos Tempos do Cangaço", por tanto, atraiu a minha atenção de forma imediata e se bem não encontrei nas suas páginas o Barbaruiva ou aos corsários ingleses, aprendi a conhecer outro tipo de pirataria, a da violência, o saque, o seqüestro, a extorsão e as chacinas que mergulharam na barbárie e na desolação ao interior de Pernambuco e de outros estados da região durante quase meio século. Assim mesmo, me fez aprofundar em seus povos, aldeias e cidades que foram protagonistas e epicentros das andanças dos irmãos Ferreira e seus sequazes. Assim hoje me soam familiares Vila Bela, São Francisco, Águas Belas, Triunfo e a valente Nazaré, entre outras. Penetrei na intrincada "caatinga" e no rochoso solo das montanhas que serviram de refúgio aos bandoleiros, e me impressionei com estupor e assombro com a cobertura e proteção que os inescrupulosos "coronéis" outorgavam aos facínoras. Simultaneamente acompanhei a crônica deste apaixonante capítulo da história de Pernambuco e do Brasil, localizado no tempo e forma graças à inserção do autor das novidades que marcaram época como os primeiros vôos internacionais ou a noticia da aparição de um novo jornal, ou a morte ou assunção de um novo Presidente da Nação. Li pela primeira vez, em minha infância, o nome do meu avô materno escrito em uma placa de rua que leva seu nome. Imagino então, os desvelos do autor ao realizar sua pesquisa, e o gozo ao encontrar os documentos que ratificam a lenda e a satisfação ao plasmá-los nas páginas de sua obra. Dizem que o único sofrimento que o tempo não pode vencer é o do amor não declarado. Imagino então - com inveja por certo - à consumação desta obra literária por parte de Geraldo Ferraz Torres, como uma espécie de exorcismo, por não ter podido expressar pessoalmente a Teófanes, sua admiração, seu reconhecimento, seu amor e seu respeito. Escrever
e publicar são um ato de valentia. O diz um covarde que tem
um livro terminado há mais de cinco anos, carecendo do valor
necessário para publicá-lo. Vai então
meu mais sentido respeito, agradecimento e
admiração para o autor desta magnífica
obra, que logrou sua paz interior e a glória do dever
familiar cumprido, o resgate para a história de
Teófanes e o reconhecimento e orgulho de seus pares da
força policial e de seus contemporâneos. Consolidação das Considerações do Dr. NONATO DE MAGALHÃES - Serra Talhada - PE
"Floresta se orgulha do filho ilustre e Serra Talhada o ama eternamente" Outubro/2003 Inicio
a minha mensagem exaltando o
extraordinário sertanejo - Bravo Militar - Coronel
Theophanes Ferraz Torres, para, em análise breve, dizer do
seu espírito dadivoso e amigo de seus amigos, com os quais
convivia. Cito como exemplo a amizade entre o Coronel e o meu pai foi
de inteira confiança e cordialidade no trato social. Ambos
tiveram fazendas de criar gado bovino - a de Afonso
Magalhães (meu pai) denominava-se "Pitombas" e a do Coronel,
de "Carapicho". Nesta fazenda, o Coronel criava gado de raça
Gir e Nelore, Criava, também, caprinos e outros animais.
Lembro-me de outra propriedade do Coronel Theophanes, a bela Fazenda
"Bandeira", no município de Betânia, onde,
também tinha gado. Foi Theophanes o primeiro a introduzir o
gado selecionado, de raça pura, e muito bom de leite, em
nossa Região Sertaneja - Serra Talhada. O
seu filho, também
coronel da Polícia Militar de Pernambuco,
Teófanes Ferraz Torres Filho, foi leiteiro comigo,
oportunidade em que levávamos o leite das nossas fazendas
para a rua, a custa de três "tostões" a garrafa. O
Loulinho foi vaqueiro da Fazenda Carrapicho e eu da Fazenda Pitombas, a
mesma época. O
Coronel Theophanes era
tão amigo do meu genitor, que foi padrinho do meu
irmão Antônio Expedito de Magalhães,
com a sua dileta esposa, Dona Amélia de Sá Torres
- o casal deu ao meu irmão, como presente, uma novilha
"enchertada" que pariu, tempos depois, uma bezerra fêmea e,
daí em diante, o Antônio passou a possuir
várias vacas leiteiras (fruto de um
coração generoso). A
minha mãe
também era madrinha de Enid (Maninha), a primeira filha.
Maninha era uma mulher muito bonita e bela e de prendas
domésticas admiráveis. Maninha casou com o genial
médico Dr. Mário Medeiros. Theophanes
e Amélia
criaram quatro filhos maravilhosos - dois homens e duas mulheres:
Teófanes Ferraz Torres Filho - Loulinho; Geraldo Ferraz de
Sá Torres; Enid; e Zilda. Aqui,
não quero falar do
homem valente e destemido que foi o Coronel Theophanes, apenas afirmar
do seu espírito de generosidade. Tinha vida social
atenciosa. Dava presentes em aniversários, ensinando aos
homens do seu tempo como viver em sociedade. Defendia
o Estado com
veemência. Apesar de ter nascido em Floresta, amava Serra
Talhada, a cidade que escolheu para viver os seus dias após
a sua reforma militar. Morreu muito cedo, apenas com 39 anos. Mormente
ter sido grande homem, em todos os sentidos - inteligente e leal as
autoridades constituídas do estado - que com amor defendeu,
foi perseguido e humilhado, no que acredito ter abreviado a sua morte. A
esposa, Dona Amélia, era
uma verdadeira Baronesa - elegante e bonita - vestia-se a altura da
vida social que a levava, a qualquer momento, estar pronta,
até mesmo em casa, para receber a quem lhe visitasse. O
esposo se orgulhava da esposa que Deus lhe deu, fazendo-o feliz
eternamente. Lá nos Céus espero que estejam
gozando as mercês da eternidade. Parabéns
ao autor pelos
dois volumes que os li. Você tem o espírito do
avô, a sua coragem e o seu amor. A luta que empreendes
demonstra muito bem esse dinamismo. Outro
destaque da
característica do Coronel Theophanes era o pisar firme -
firme nos passos e, também, na voz. Você
é assim, meu caro Geraldo. Quando
Theophanes chegava a nossa
casa, isto é, a casa dos meus pais, ele adentrava,
procurando pelo café e dizia: "onde está a
comadre Edvirges?". Minha mãe logo respondia: "Já
vou compadre Theophanes". Eu, ainda menino, avançava para
abraça-lo, pois ele gostava muito de crianças.
Assim, Geraldo, fique certo que você tem a mesma
afeição e a marcha forte do seu avô. Algumas
vezes pedi aos meus pais para
ser um militar igual ao Coronel Theophanes - distinto e valente. A
resposta era sempre: "não, Porque morre na guerra.
Então eu pedia, "deixe-me ser um Padre". A resposta era:
"não. Porque não casa". Restava-me apenas querer
ser músico. A resposta, também, foi:
"não. Porque morre tuberculoso de tanto soprar os
instrumentos musicais. Meus pais diziam: queremos você como
um sucessor do seu pai. Fiquei triste, confesso. Finalmente, eu sou o que sou - mas tenho orgulho de ser amigo de um neto do Coronel Theophanes Ferraz Torres: Orgulho de muitos sertanejos que reconheciam a sua bravura e grandeza humana, que ele exercera na face da terra.
Outubro/2003 O
Coronel Theophanes Ferraz Torres,
nasceu em 27 de dezembro de 1927. O Santo do dia era Santo Theophanes -
defensor das injustiças, razão do seu nome. Theophanes
Ferraz Torres - o nosso
Cel. Theophanes, de saudosa memória, já nasceu
valente e forte em suas atitudes, por isto foi muito respeitado pelos
seus conterrâneos: meninos de escola, rapazes da sociedade e
homens do seu tempo, todos o admiravam pelo seu semblante austero, sem
brincadeiras, mas com soluções
plausíveis aos problemas que lhe aparecessem à
frente. Chamem Theophanes!, eis a solução. O
homem valente e forte era temente a
Deus. Excepcional guerreiro, não temia
obstáculos, mas possuía e conduzia as imagens de
São Sebastião e São João
Evangelista (protetor dos militares) - este também o Santo
do dia quando do seu nascimento. Tinha
consigo um santo-e-senha,
gravado o seu nome: "Theophanes - Fiho de Deus Pai", provando assim a
sua fé cristã e seu amor a Deus. Enfrentou
as batalhas mais cruentas
da história do cangaço, no Sertão de
Pernambuco e em outros Sertões Nordestinos. Se
este homem tivesse vivido um
século de história, maior herança
deixaria, com exemplos de bravura para os seus
contemporâneos. A nossa geração e a que
há de vir, militarmente falando, contaria com um maior
acervo de grande valor para os militares do Derby, sede do comando
militar da gloriosa Polícia Militar de Pernambuco, porque o
bravo militar Theophanes foi realmente um gigante de atos
heróicos do seu tempo. Eu, se usasse chapéu, o tiraria toda vez que passasse pela frente do Derby e diria um Deus te salve!...
Dr. Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho (Honra e glória dos escritores pernambucanos) Em particular à ascensão gloriosa é a nossa alegria, porque conheço a vida de seus ancestrais. Passado, presente e o futuro despertado pelo genial neto do Coronel Theophanes Ferraz Torres - Bravo Militar. Outubro/2003 "Honrar a quem merece honra". O
sol volta a brilhar, no mais alto
dos céus, traduzindo o brilho das trombetas celestiais que
anunciam mais uma criança que seria criada entre as sombras
dos tamarindos da tamarindal Floresta, que com suas flores campestres
ornamentou os seus munícipes. O
Quartel já em
inspiração pela aspiração
de um povo hospitaleiro, mormente aos filhos de outros
municípios, como exemplo, a guarida que foi dada naquela
cidade do Sertão pernambucano, a um filho de Serra Talhada,
José de Almeida Filho e do então
escrivão da Coletoria Estadual, o Sr. Ademar Gomes de
Magalhães - Seu Dé. Um
dia em que fui conhecer a
hospitalidade daquela gente, me hospedei no Hotel de Zé
Almeida e observei que não havia diferencias para se viver
no Sertão - Os gostos, a hospitalidade e os costumes e eram
os mesmos. Mas
não estou a falar
deste mecanismo de um povo, mas, exaltar Floresta em ter sido premiada
por Deus, pois ali nasceu um Herói Militar, de uma
inteligência consubstanciada na força do
intelecto, que o Supremo Árbitro dos Mundos deu ao um homem
só, e, este homem, chamou-se Theophanes Ferraz Torres. O
engenheiro, sem ser engenheiro, mas já ensinava como se
criava uma engenharia de gotejamento improvisado aos homens do
Sertão. Em
sua propriedade - Fazenda
Bandeira, no Navio, onde a seca imperava, construiu três
colunas bem altas, de madeira de lei, isto é "Pau
incorruptível" e, em cima desse "tripé", colocou
um tanque de alvenaria, coberto com telhas. Abriu um
orifício no tanque e acoplou canos de
cana-da-índia (bambu), emendados uns aos outros. Quando os
canos atingiram o terreno, fez furos neles e com isto mantinha uma
horta que produzia verduras necessárias para o cozinhar do
dia-a-dia, colaborando para que as mulheres do nosso interior, que
cozinham com rara perfeição, preparassem comida
mais gostosa. Para diversificar, mais ainda, acrescentou ao plantio o
cultivo do milho, feijão, abóboras, jerimuns, e
melancia. Quando
alguém visitava "o
Bandeira", dizia, entusiasticamente, "o homem não
é apenas um herói militar é,
também, um engenheiro dos bons". Theophanes, formado pela
Universidade da Vida, um autodidata, era um "Doutor" de profunda
generosidade, pois incentivou os proprietários às
margens do Pajeú, para invés de aguar as vazantes
em galões de latas de querosene, conduzidos nas costas dos
moradores e deles próprios, o fizessem por via de
"gotejamento". Um progresso engenhoso e proliferante. Eis a obra do
Construtor Social, Coronel Theophanes Ferraz Torres: exemplo de
dignidade e honradez. Tudo
isso realizado por um homem que
viveu quase 39 anos. E se tivesse vivido um século?
Não apenas honraria muito mais a gloriosa Polícia
Militar de Pernambuco, como também, despertaria aos
engenheiros equacionarem, economicamente falando, aquele trabalho
maravilhoso que ele realizou, mostrando, inclusive, que os pobres
moradores às margens de rios, poderiam viver com um pouco
mais de alimento à sua mesa e com mais dignidade. O
Coronel, não
só conhecia de gado, generalizadamente, como
também plantio produtivo. Onde existisse "terras roxas", ele
orientava aos seus proprietários que plantassem
café, porque o algodão mocó,
só dava no Sertão. Apesar
de austero,
distribuía amor, alegria e esperança, porque,
dizia ele: "A decepção consume e entristece a
alma e macula o coração. Façam tudo
para viver alegre!". O
Coronel Theophanes foi usado por
Deus para levar aos quatro cantos do Sertão de Pernambuco e
do Nordeste brasileiro a arte de guerrilha e a coragem de lutar contra
os cangaceiros que assolavam a região, uma praga humana,
destruidora de seres humanos. Um arrojado diante dos desafios,
empreendendo a tática de um desbravador aguçado,
carismático e destemido, avançando crepitante
diante do perigo que emerge, inesperadamente, à sua frente.
O rifle do Coronel Theophanes era temido como um exército
diante de uma força minoritária. Cada grito era
um impulso e cada impulso aproximava-se mais implacavelmente dos
inimigos nas caatingas sertanejas. Foi
um homem robusto, como robusto
foi o seu coração fraterno, mesmo assim, com o
coração fraternal, o infortúnio bateu
à sua porta e destruiu sua vida. Theophanes deixou,
tão cedo, uma família carente de
orientação na vida. Muito embora Dona
Amélia fosse uma verdadeira heroina, com a
ausência do esposo extremoso, competente e lutador,
não tinha como preencher a lacuna da
separação eterna. Foi,
também, na vida
corpórea, após a Revolução
de 30 e antes de sua morte uma alma doída, encarcerada pela
angústia, pelo desamor, pela tristeza, por falta de
justiça à sua pessoa e pela extrema vaidade, pelo
egoísmo de alguns homens de então e, finalmente,
pelas dificuldades inerentes desta vida, que serenamente nos deixou. E
a crueldade das autoridades que governavam nosso Estado prevaleceu
sobre tudo. À Deus prestarão contas. Pedimos
do fundo do
coração que nosso bom Deus abençoe o
seu espírito e de sua dileta esposa, e, onde eles estiverem,
recebam a salvação de suas almas generosas, que
na vida mereceram este galardão dos céus. Acredito
que, quando um Ribeirinho do
Pajeú, colher um fecho de amendoim,
lembrar-se-ão, com gratidão, que foi o Coronel
Theophanes quem ensinou o plantio nas areias do lendário
Pajeú. Obra do Divino Criador, ensinada pelo homem que
plantou sua mente na terra que a amou, distribuindo o seu conhecimento. Aceitando plenamente que o corpo é uma carne possuída pelas palavras que moram nele, sou, evidentemente, possuído das palavras incentivadoras do inesquecível Coronel Theophanes, que me foram ministradas desde a minha tenra idade, servindo-me do dias atuais, que se sucedem, em suscetível e permanente ação. Cresci pensando em seus efeitos e as conduzi para o uso em meu aprendizado de vida - morrer aprendendo é obra divinal -. Não paremos! A vida continua, sabendo, evidentemente, que Deus está, sempre, presente. Sempre e por todo o caminho. Eis a nossa fé e a nossa esperança em renovação constante. Antes de Subscrever Depois da mensagem de recordações e gratidão fraterna, resta-me alçar vôo aos páramos da sabedoria divina para que eu, em piedade e genoflexamente peça ao nosso Deus de bondade e amor, à salvação daqueles que já se foram e foram na terra, benfeitores das boas causas, deixando marcas indeléveis do seu conviver entre os seres humanos, como exemplo de dignidade, moral e civismo, entre àqueles que já habitam aos Céus, destacamos a alma ímpar e imparcial do nosso inesquecível Coronel Theophanes Ferraz Torres.
Novembro/2003 Obra admirável de Engenharia criada pela inteligência do Coronel Theophanes Ferraz Torres - Cel. Theophanes. O
Cel. construiu em sua propriedade
"Bandeira" um açude de pequeno manancial d'água.
Quando no período da seca no Sertão pernambucano,
o açude descia o nível d'água devido a
intensa evaporação tropical. Sendo o terreno
arenoso, a água sumia muito mais rápido. Todavia,
ele, mandava afastar a areia, cerca de dois metros de profundidade - um
pouco fora d'água; isto evitava que se perdesse o
líquido precioso. Concluído o serviço,
abriria este espaço, então a água
já existente em toda a sua circunferência,
juntava-se a água da canaleta aberta e, com a sua
providência, retirava-se a areia do fundo do
açude: aprofundando-se a medida que a necessidade a
exigisse, periodicamente. Havendo minação na
afluição da água nova para a
superfície da terra - acontecendo a contento: em uma noite
enchendo o açude em questão. Ele
construiu sua obra colocando na
água funda a quantidade de colunas (estacotes altos e
fixos), de um para outro lado, com espaços definidos de
três metros ou que fossem necessárias. De uma
distância para outra, armava um tapume móvel, para
separar os bezerros das vacas, a fim de evitar que eles mamassem. Isto
ocorria anualmente, por ocasião da desmama e na hora da
ferração, com o ferro em brasa retirado de fogo
feito no chão, fora do curral. Consequentemente, levava-os
à manga grande, isto é; um grande cercado de
madeira destinado a este fim. Quanto as vacas, eram soltas no campo
(pastagem ao pé da serra) com o objetivo de facilitar que
elas enxertassem. Só se fazia a
separação dos bezerros que já chegando
a garrote (de dois a quatro anos de idade). Este é o momento
da quartilha, é a "sorte" do vaqueiro, de 4x1, e quando o
patrão é bom, dar-lhe-ia uma bezerra. A
cerca, construída de
cana-da-índia, descia n'água, acompanhando o seu
volume, era flutuante. As varas usadas na cerca eram de tabocas, por
isto não afundavam. Dentro das varas ocas eram colocados um
arame leve que permanecia flutuando n'água e ainda, evitava
o tombamento (inclinação horizontal), devido ao
forte vento no local. O vento açoita a água,
movimentando o tapume que pende para um lado e para o outro, como um
navio em alto mar Para
maior segurança e
tranqüilidade futura, esticava-se um outro arame (de cobre ou
galvanizado, para a ferrugem não atacar), de um estacote
para outro. Esta era a obra prima criada pelo Coronel genial. Apesar
da Fazenda Bandeira ser
localizada na região do Navio - . Se a região
é assim chamada é porque um dia já foi
mar! - a areia existente é a prova disto, ninguém
pode duvidar!, a dez léguas de Serra Talhada, onde a seca
impera, era cercada de serras, formando uma espécie de saco
com a "boca aberta" para o céu, como se estivesse recebendo
uma benção do Senhor e Criador dos Mundos, a
água acumulava-se nesse aplausível
espaço, alegrando os olhos da gente. Deus,
naturalmente, teria reservado
aquele pé de serra fechado para o Coronel criar gado e
outros animais - eqüinos, suínos, ovinos, galinhas,
patos, seriemas e bonitas emas, sem ter dificuldade d'água.
Mantidos na fazenda, em caatingas densa os pássaros
exuberantes no amanhecer de cada dia, levavam o tempo a cantar. O
Coronel era um homem enviado por
Deus, para alcançar o progresso material e a moralidade
permanente, em seu exemplo de probidade e honradez de triunfante
amorável. O
infortúnio ceifou-lhe a
vida. Ele triunfou no céu! Ficamos tristes! Perdemos o
Coronel, o gênio militar? ... O mundo ficou pobre, outro
não nasceu. É bom dizer que ele era muito bom com
as pessoas que lhes serviam de empregados. Até o seu cunhado
Levino Leite de Sá, irmão de dona
Amélia, foi o gerente administrativo do Coronel na Fazenda
Bandeira, com direito até mesmo a "Quartilha" e sem pagar
renda de tudo quanto produzisse com o suor do seu rosto. É
de fato, uma substancial ajuda naquela época
difícil no nosso Sertão sofredor. O
Bandeira tinha cacimba de
água potável, muito boa para as pessoas.
Dádiva dos Céus em uma região seca.
Havia também "Abas da Serra", muito boa para pastagem, por
isso, o gado do Coronel sempre era mais gordo do que os de outras
fazendas de criação de gado. Cada
animal tinha um nome, e ele, o
Coronel o conhecia um a um. Alguns obedeciam o seu chamado, como seja:
O reprodutor Truvão, que depois de Ter morrido por picada de
cobra, foi substituído pelo Azulão, touro de
grande porte, mas não era manso como o Truvão.
Aquele permanecia distante, não deixava por a
mão. A vaca Elegante e o cachorro Curisco, estes sim,
obedeciam e comiam na mão do Coronel, tudo que lhes desse:
capim, palma ou feijão. Destacamos
aqui a amizade e
confiança que o Coronel tinha no vaqueiro Zé
Salomão. Este até chorava à
ausência do patrão - Patrão Pai, como
dizia Salomão. "Ele já vai saindo, quando
voltará aqui? Deus o leve e Deus o traga - Deus
abençoe o caminho, livrando-o dos malfeitores que existem em
nosso Sertão". O cachorro tinha pelo preto mas com o passamento do Coronel aos Céus, embranqueceu d repente. Já tinha 17 anos e logo morreu de repente. Quando meu pai tomou conhecimento que a Fazenda Bandeira não tinha cachorro, pediu para Capuxú um outro. Meu pai deu o nome de Trigueiro, ao animal, por ele ser parecido com um tigre. Apesar de não ser bom para caça, era um ótimo vigia do pátio da casa. "Tudo
que é verde seca, Geraldo
Ferraz Filho eu vou ficando
por aqui!
Novembro/2003 O
Coronel Theophanes Ferraz Torres Quando
o Coronel vinha, ainda longe
da sua casa, Quando
o Coronel ia voltar ao
Carrapicho, O
cachorro sentindo dor Realçando a minha crença e fé: "É dolo não querer crer, nem entender aquilo que todos crêem e dizem em algum lugar."
Outubro/2003 "O
mundo teve uma perda irreparável.
Naturalmente
houve toque de tambor Juntando
a voz num só canto
Outubro/2003 Você não está neste planeta para produzir coisa alguma com o seu corpo. Está aqui para produzir algo com a sua alma. Seu corpo é meramente o instrumento da sua alma à cumprir a vontade do Pai eterno, que um dia te chamará aos páramos da eternidade. Quanto mais você é, mais pode tornar-se, e quanto mais você se torna, mais ainda pode ser. Assim sendo, continuareis escrevendo sua genial arte de escritor, trazendo a lume a história da trajetória do seu avô - Bravo militar, grande guerreiro e defensor do seu estado, no tempo do Cangaço. O Coronel Theophanes Ferraz Torres, foi um valente e destemido - enfrentando o inimigo corpo a corpo: Haja vista a prisão do cangaceiro Antônio Silvino e encontro com Lampião no município de Floresta, em Caatinga fechada, que apenas era moradia de animais ferozes - como prova de sua bravura e lealdade com os comandados - aí, nesta luta, Lampião ficou ferido e escapou escondido em uma moita de folhas de carne. Lampião, de onde estava, via o Coronel Theophanes a quem temia. Lá o Coronel mostrou quem era e a que veio a este mundo para eliminar o Cangaço dos Sertões Pernambucano e do Nordeste brasileiro.
Outubro/2003 Generosidade
e escritor/homem de valor Ferro
fundido e aço
temperado Outubro/2003 Se
eu pudesse voar às
alturas Naturalmente
aproveitava muito
Acredito ter cumprido minha missão, atendendo a um pedido seu, escrevo algo sobre o Coronel Theophanes, tendo em vista o meu conhecimento do passado, que com saudade me recordo agora. Considerações
iniciais do Sr. Alfredo Jorge Bonessi Sr Geraldo Ferraz Saúde Desculpe a demora em acusar o recebimento dos livros e do cartão. Pelo presente acuso o recebimento dos livros e o gentil cartão pessoal que o Sr me enviou. Fiquei agradecido, muito lisonjeado, muito contente e bastante curioso e emocionado. De antemão lhe asseguro: o Sr é um homem fantástico. Felizes estão os estudiosos do momento e as futuras gerações que com certeza buscarão nesse tema nordeste-cangaço o deleite para a satisfação da alma sertaneja, latente em todos os corações nordestinos e que terão em seus livros um marco norteador de pesquisa. Agradeço penhorado as dedicações escritas no cartão pessoal, no primeiro volume e no segundo volume de vossa obra-prima. De igual maneira, pelo presente e-mail, externo o meu jubilo em trocar informações com uma pessoa de destaque que nem o Sr. Retribuo as mesmas dedicações e mais....coloco-me a vossa inteira disposição e estendo a minha mão humilde de amigo sincero. Quanto aos livros, estou em núpcias com eles. O primeiro volume, devorei-o em menos de quatro horas de leitura, sem parar. Estou no segundo volume e bastante adiantado nos fatos. Era o conhecimento que faltava aos pesquisadores do tema, o outro lado, de um lado, o movimento da policia pernambucana e a sua rede de informações e como ela se estruturou para afugentar os cangaceiros. Pela leitura até então podemos destacar a figura homenageada na obra o nosso digno Comandante Theofanes, sua luta, a sua dedicação, a sua estratégia, a sua força de caráter, a sua honestidade e a sua firmeza de propósito na luta contra esse "polvo" gigantesco que foi o cangaço. Pela leitura podemos esclarecer muitos fatos, como o porque da estratégia dos cangaceiros em se dividirem em pequenos grupos, a origem da munição que eles usavam, o ataque rápido sem enfrentamento e a razão das matanças que muito ensangüentaram o solo sertanejo, as dificuldades enfrentadas pelas tropas na caça aos criminosos, e a vida do infeliz sertanejo, entre a espada e o punhal, entre a vida e a morte, entre a policia e os fora da lei. Ainda é cedo para uma análise mais profunda da obra e da riqueza de valores que ela proporciona aos estudantes do tema cangaço-nordeste, mas breve, ao terminar a leitura, atenderei ao pedido de Vossa Senhoria, em tecer alguns comentários com relação aos fatos históricos tão bem narrados e com tanta riqueza de detalhes que nos transporta aos cenários das lutas e nos enleva a fazermos partes dos mesmos, como se estivéssemos escrevendo o nosso diário. A obra impressiona, é apaixonante e desperta curiosidade e muito mais ainda, nos deixa encantados quando contemplamos o verso do primeiro volume e nos deparamos com um bela tela de vossa autoria, em branco e preto, é claro, tendo a frente a foto do autor, e no verso do segundo volume, em colorido, a definição da grandiosidade da tela e as riquezas dos detalhes artísticos, tendo a frente a foto colorida do autor. Felicidade nunca é demais. Abraços Considerações
finais do Sr. Alfredo Jorge Bonessi Sr Geraldo Ferraz Saúde Comunico a V.Sa que acabei de ler o segundo volume da Obra "Pernambuco no Tempo do Cangaço" e o presente e-mail complementa o anteriormente enviado por mim. Desde já agradeço o contato telefônico, foi uma pena a ligação ter caído, imprevisto, mas fiquei lisonjeado pela comunicação. Quanto a obra, adicionando ao que já me reportei, temos a nítida impressão que o reinado de Lampião durou mais tempo pela saída prematura do campo da luta dos insignes Comandantes Eurico de Sousa Leão e Coronel Theophanes. Nessa obra podemos constatar o controle policial sobre o movimento dos bandos, a determinação dos comandantes de volantes em saírem na persiga dos bandoleiros, o saldo dos combates, as dificuldades enfrentadas pelas tropas com a manutenção do equipamento, transporte e alimentação uma vez que dependiam do envio de recursos do poder central. As volantes autônomas deram mais trabalhos aos foras da lei, porque não dependiam tanto dessa forma de apoio logístico e, por isso, andavam mais no rastro dos cangaceiros pelas caatingas do que embarcados em caminhões pelas estradas. De maneira geral todas as volantes "puxadas" a fome e sede pelo exemplo e pela energia de seus chefes contribuíram pela extinção daquela forma de banditismo. Isso não significa que o banditismo está extinto dos sertões, como frisei, aquela forma de banditismo foi extinta, hoje está de outra forma, agindo de outra maneira, mutante apenas. Penso que o Cel Theophanes merece algo mais que lembranças. Ele merece nome de bairros, nomes de quartéis militares, estatuas em praças, dia em calendário, museu, uma linda capela, um lugar em que possamos nos ajoelhar perante a sua estátua, chorarmos um pouco, olharmos para ele, agradecermos pelo seu trabalho, pelo seu exemplo, pela sua honestidade e ficarmos felizes em saber que ele está presente em espírito ao nosso lado e que mais hoje, mais amanhã, estaremos todos juntos em outras histórias, nos preparando para escrevermos mais histórias. Concluindo essa breve análise entre a vida da policia e a vida dos cangaceiros, podemos enfim montarmos uma idéia da forma de agir de ambas as partes, pelo menos até o ano da morte do Coronel Theophanes, 1933, ponto extremo dos dois volumes. Seria bom que V.Sra desse continuidade na busca das informações pelo menos até 1940. Eu sei que seria pedir demais. Esperamos que outros pesquisadores procurem nos arquivos policiais de Alagoas, Bahia e Sergipe os boletins de movimentações das forças e cangaceiros para montarmos uma miniatura do campo de luta, para vermos quem enganava quem, o jogo da informação com a movimentação, para no final entendermos como as coisas aconteceram e da forma como aconteceram, isto é, como o bando foi atacado em Angicos, como os cangaceiros foram pegos desprevenidos e o porque da extinção do cangaço com a morte do chefe. Afinal quem era o mito, Lampião ou o Cangaço? Por fim, parabenizo, mais uma vez, pelo excelente trabalho desenvolvido nos dois volumes, somos gratos por termos a mão dois compêndios esclarecedores que nos poupou anos e mais anos de despesas e de pesquisa. E quando o Sr inaugurar o busto do Cel Theophanes, em solenidade de apreço e de gratidão, tenha certeza que lá estaremos todos nós "os estudiosos do cangaço", para comungarmos com admiração pela epopéia sertaneja que ficou escrita nos livros da nossa historia e marcadas com suor, sangue, punhal e balas, na guerra entre cangaço e volantes, hoje, adormecida apenas. Receba meu abraço e votos de prosperidade, extensivos aos dignos familiares. Saudações. E por aqui estamos as ordens. |
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